“Porcentagem de vacinados está muito abaixo da meta do governo, de atingir 90% do público prioritário. País registra alta em hospitalizações e mortes pela doença”
Júlia Carvalho/G1
Com a cobertura vacinal da gripe em pouco mais de 35%, o Brasil vive um surto de influenza, segundo os infectologistas. De acordo com o boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado nesta quinta-feira (5), 15 estados e o Distrito Federal estão em situação de alerta, risco ou alto risco para casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Segundo o documento, os altos níveis registrados estão relacionados ao crescimento de hospitalizações por influenza A. Renato Kfouri, infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que a alta de casos de gripe é tradicional entre o fim do outono e início do inverno, mas que o nível de atividade da doença varia em função da virulência da cepa que está circulando.
“Sem dúvida estamos vivendo uma temporada [de influenza] importante esse ano, com um número grande de hospitalizações pelo vírus influenza” alerta. Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, também caracteriza a situação vivida pelo Brasil como um surto importante, com um número de casos acima do habitual.
Os especialistas destacam que os baixos índices de vacinação contribuem para a alta nos casos e internações registrados.
Baixa cobertura vacinal
Dados do painel do Ministério da Saúde apontam que apenas 35,96% do público-alvo a ser vacinado contra a influenza já se imunizou. A porcentagem fica muito abaixo da meta do governo, de atingir 90% do público prioritário. Os grupos de risco incluem crianças, gestantes e idosos acima de 60 anos, que têm direito à imunização gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS).
Mas, com a baixa procura, algumas capitais como São Paulo e Rio de Janeiro também já liberaram a vacinação para toda a população. Segundo os dados do ministério, a situação é mais preocupante no estado do Rio de Janeiro, onde somente 21,75% do público-alvo já se vacinou. Bahia, Maranhão, Mato Grosso e Pernambuco completam a lista dos piores estados, com índices próximos a 30%.
Se analisados os diferentes grupos dentro do público-alvo estabelecido pelo governo, os idosos são os que concentram a maior cobertura vacinal – ainda que baixa – com 38,83%. As crianças estão com a cobertura em 30,5% e as gestantes, em 23,35%.
Alta de casos e internações
De acordo com o boletim InfoGripe da Fiocruz mais recente, os seguintes estados, além do DF, apresentaram alta incidência de SRAG nas últimas duas semanas:
- Acre
- Alagoas
- Bahia
- Goiás
- Maranhão
- Minas Gerais
- Mato Grosso
- Paraná
- Paraíba
- Rio de Janeiro
- Rio Grande do Sul
- Roraima
- Santa Catarina
- São Paulo
- Sergipe
“Neste ano teve duas características que me chamaram a atenção: os casos começaram mais cedo, ainda no início de maio, e também se espalharam por todo o país, quando a tendência em geral é se concentrarem no Sul e no Sudeste, pela sazonalidade”, analisa Granato. O boletim destaca a incidência de casos de influenza A em jovens, adultos e idosos. O último grupo é o que mais sofre com hospitalizações e mortalidade pela doença.
Entre os óbitos por SRAG, o documento alerta, que nas últimas quatro semanas epidemiológicas, quase 75% das mortes foram por influenza A ou B.
Alerta para vacinar
Os especialistas explicam que um conjunto de fatores pode ter contribuído para a alta de casos observada nesta temporada de influenza. Entre os principais motivos, eles destacam:
- Possível mutação do vírus – apesar da vacina proteger contra mais de uma variante da influenza, uma mutação do vírus pode ter facilitado a transmissão e tornado a doença mais agressiva esse ano.
- Alterações climáticas – um regime climático diferente do padrão, e até do esperado para essa época do ano, pode ter contribuído para a disseminação do vírus, especialmente considerando que o clima está mais seco.
- Baixa cobertura vacinal – os baixos índices de vacinação em todos os estados facilitam a circulação e transmissão do vírus.
Com a alta no número de casos e internações, os infectologistas reiteram a importância da vacinação.