ZONEAMENTO AGRÍCOLA DA MAÇÃ: autossuficiência da cultura deve-se à grande produção da agricultura familiar

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou nesta quarta-feira (29) no Diário Oficial da União as Portarias que atualizam o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura da macieira no Brasil. A maçã é um dos frutos com maior apelo para a agricultura familiar por apresentar grande versatilidade em sua produção. Além do fruto, também podem ser comercializados doces, geleias, compotas, bebidas e vinagre. Porém, por ser uma fruta de consumo fresco, exige dos produtores eficácia no planejamento das safras, nesse sentido, a tecnologia é uma grande aliada, como o Zarc, uma ferramenta de análise do risco derivado da variabilidade climática e que considera as características da cultura e do solo, indicando as áreas e períodos de menor risco climático no país

Wilson Ribeiro/Secom CONAFER

Elaborado com base em estudos da Embrapa Uva e Vinho (RS) e da Embrapa Informática Agropecuária (SP), e validado por técnicos, especialistas e representantes do setor produtivo, o Zarc Maçã apresenta duas novidades: a unificação dos critérios técnicos utilizados nos estudos de zoneamento e o aumento da área de abrangência, com novas regiões com potencial climático para a produção.

Segundo Gilmar Nachtigall, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e um dos responsáveis pelo Zarc Maçã, essas duas novidades são de grande importância para o setor, pois com a unificação da metodologia são facilitadas as avaliações dos riscos por parte dos diversos agentes interessados, como produtores, bancos, seguradoras e governo, enquanto que com a inclusão de novas regiões no Zarc Maçã, há a possibilidade de ampliação da produção nacional da fruta.

Nachtigall explica que no Zarc Maçã foi aplicada a metodologia utilizada nas demais culturas, na qual a classificação é feita com base na disponibilidade de água e nos índices de temperatura de cada região avaliada, para as diferentes fases da cultura. Os níveis de risco podem variar de até 20%, de 20% a 30%, de 30% a 40% e de mais de 40%. “Dentro desta metodologia, as áreas com até 20% de risco são as mais indicadas e as com mais de 40% de risco não são recomendadas para o cultivo de macieira”, destaca o pesquisador.

Nachtigall detalha que a metodologia envolveu a seleção de regiões com acúmulo de frio no período de inverno, condição requerida pela cultura, a partir das informações de temperaturas da base de dados meteorológicos. A partir deste levantamento, ele explica que foram estabelecidos três tipos de regiões quanto ao acúmulo de frio hibernal: alto, médio e baixo. Estas definições foram cruzadas com as informações fenológicas da cultura, permitindo definir indicações de cultivo para as diferentes regiões climáticas, aptas ao cultivo da macieira.

“Com essas informações, os agricultores e técnicos podem planejar melhor o sistema de produção a ser adotado, a fim de evitar que adversidades climáticas coincidam com as fases mais sensíveis da cultura minimizando, assim, os riscos de perdas na produção”, pontua Gilmar. Outro aspecto que o pesquisador destaca é que o Zarc Maçã prioriza o plantio de cultivares de macieira que requerem elevado acúmulo de frio hibernal, como as cultivares do Grupo Gala e Fuji para as regiões com esta condição. Já em regiões que apresentem baixo acúmulo de frio, são indicadas variedades com menores exigências de acúmulo de frio, como as cultivares Eva, Julieta, Princesa e Condessa.

Zarc
O Zarc é uma ferramenta de análise do risco derivado da variabilidade climática e que considera as características da cultura e do solo, indicando as áreas e períodos de menor risco climático no país, definindo as regiões mais indicadas para o cultivo, de maneira a reduzir perdas e garantir rendimentos mais elevados. Além disso, permite aos produtores desses municípios o acesso ao crédito rural, Proagro e ao seguro rural.

Base de dados
A base de dados meteorológicos utilizadas na atualização do Zarc é composta por séries históricas de aproximadamente 30 anos, obtidas a partir das redes de estações terrestres, meteorológicas e pluviométricas, convencionais e automáticas, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), do sistema HidroWeb, operado pela Agência Nacional de Águas, e às pertencentes ao Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE), além de redes estaduais mantidas por instituições ou empresas públicas.

Aplicativo Plantio Certo
Produtores rurais e outros agentes do agronegócio podem acessar, por meio de tablets e smartphones, de forma mais prática, as informações oficiais do Zarc, facilitando a orientação quanto aos programas de política agrícola do governo federal. O aplicativo móvel Zarc Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa Informática Agropecuária (Campinas/SP), está disponível nas lojas de aplicativos: iOS e Android. Os resultados do Zarc também podem ser consultados e baixados por meio da plataforma “Painel de Indicação de Riscos” e nas portarias de Zarc por Estado.

A maçã é um dos frutos mais cultivados pela agricultura familiar

Com mais de 33 mil hectares de pomares de maçã espalhados pelo o Brasil, o país produz cerca de 1,35 milhão de toneladas da fruta por ano. Os números colocam-no entre os 12 maiores produtores de maçã no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Favorecida pelo clima subtropical, a região Sul é a que mais obtém sucesso no cultivo da maçã — com destaque para o estado de Santa Catarina. A produtividade média no Brasil fica de 15 a 30 toneladas por hectare em pomares adultos, números que podem variar dependendo do espaçamento, cultivo e manejo da região.

O mercado da maçã é extremamente criterioso na qualidade do produto. De acordo com a Embrapa, 30% da produção nacional é descartada em decorrência de problemas como infestações de doenças ou defeitos físicos. O descarte é direcionado para o setor industrializado, o que pode diminuir a lucratividade do empreendedor no final do ano.

Fontes: Mapa, Canal Agro Estadão, Sebrae, Vida Rural, Grupo Cultivar e Summit Agro.