Tiros em Paraisópolis não tinham Tarcísio como alvo, dizem PMs da região

Leonardo Martins, Herculano Barreto Filho e Luís Adorno/UOL, em Brasília e SP

Os tiros disparados na manhã de hoje na favela de Paraisópolis, zona sul de capital paulista, não tinham como alvo premeditado Tarcísio de Freitas, candidato do Republicanos ao governo de São Paulo, de acordo com policiais militares que atuam na região. O MP (Ministério Público) não tem indícios de ameaça de morte do PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção criminosa que domina o local, contra nenhum dos candidatos ao poder executivo.

A cúpula da PM dá como certo que não houve atentado contra Tarcísio, versão reforçada pela dinâmica da ocorrência. De acordo com PMs que atuam no setor de inteligência da corporação e oficiais com experiência de atuação em Paraisópolis, há duas suspeitas sobre o início do tiroteio, o que ainda é checado pela Segurança Pública paulista.

A primeira é que PMs faziam ronda em ruas próximas de onde Tarcísio e sua comitiva passariam — e, ao encontrarem criminosos armados em motocicletas, teve início a troca de tiros. A segunda é que o staff chegou ao local à paisana antes do candidato e que, nesse momento, encontrou olheiros armados em motos. Há ruas em Paraisópolis que abrigam olheiros em motocicletas que acompanham pessoas desconhecidas e, se veem algo que chama a atenção, repassam as informações para integrantes do PCC.

Por essa segunda hipótese, a comitiva de Tarcísio teria visto dois olheiros e avisado a PM, que, ao se dirigir ao local indicado, encontrou criminosos armados em uma moto e se iniciou o tiroteio. magens às quais o UOL teve acesso mostram dois rapazes em uma moto na favela de Paraisópolis hoje. Com as mãos no guidão estava um homem de camiseta verde e branca e um boné cinza.

Na garupa, um outro homem, de camiseta azul e de boné roxo, que aparentava estar filmando o local. Uma outra imagem mostra o rapaz de verde e branco momentos depois, baleado e aparentemente desacordado, ao lado da moto tombada e de um cartucho de arma.

Dinâmica indica confronto e afasta hipótese de atentado

Embora a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) não tenha descartado oficialmente a hipótese de atentado, a dinâmica da ação indica que o confronto ocorreu porque agentes identificaram ao menos oito homens armados a cerca de 100 metros do local onde havia ato de campanha de Tarcísio.

Dois homens com fuzis

Segundo a Polícia Militar, dois deles portavam fuzis. Uma van escolar, que estava na linha de tiro, foi atingida por disparos. Investigadores agora buscam imagens de câmeras de segurança e vídeos registrados por quem presenciou a ação. A polícia também irá investigar imagens captadas pelas câmeras acopladas nas fardas de agentes na ocorrência. Nenhum dos disparos atingiu o prédio onde estava o candidato ao governo de São Paulo.

O suspeito morto foi identificado como F.S.L, de 27 anos. De acordo com moradores de Paraisópolis, ele morreu na hora. Segundo policiais militares, ele foi levado ao pronto-socorro do Hospital Campo Limpo, onde não resistiu aos ferimentos. Oficiais da corporação reafirmam, a partir do incidente de hoje, a importância das câmeras corporais dos PMs para esclarecimentos de crimes.

A partir das imagens gravadas pelos policiais, é possível chegar à dinâmica dos fatos, avaliam. Tarcísio afirmou em entrevista à Jovem Pan ser a favor de retirar as câmeras corporais dos PMs. Uma semana depois, recuou e disse que avaliaria a decisão.

Rotina

Um oficial da PM afirmou à reportagem que, desde o ano passado, criminosos que atuam nas favelas de Paraisópolis e de Heliópolis, além dos que ficam na Baixada Santista, estão com um procedimento mais violento do que o normal. Segundo ele, qualquer equipe policial que entra nessas localidades, desde então, é alvo de tiros: Criminosos ligados ao crime organizado disparam contra os carros e motos da polícia e correm para dentro da favela na sequência.