RETOMADA DA PEDRA BRANCA: indígenas Kariri-Sapuyá lutam pela demarcação de território ancestral

Secom CONAFER

Na tranquila Aldeia Pedra Branca, localizada no coração da Serra da Jiboia, no município de Santa Terezinha, uma reviravolta histórica ganha destaque com a significativa retomada indígena liderada pelos Kariri Sapuyá. No dia 10 de dezembro, 47 indígenas, entre homens, mulheres, crianças e anciãos, chegaram à localidade reivindicando a posse da terra que há séculos pertence aos seus ancestrais. A União Nacional Indígena (UNI) lidera essa ação, com o respaldo de todos os caciques da região, enquanto a CONAFER apoia esse movimento em prol da retomada.

A mobilização começou dias antes, com uma significativa reunião no território indígena Caramuru Paraguassu dos Pataxó HãHãHãe. Nesse encontro, cinco caciques das aldeias Kariri-Sapuyá uniram-se à comitiva da retomada, partindo de Santa Rosa e passando por Jequié até chegar em Santa Terezinha, apontada como o legítimo território ancestral pelos anciãos.

Ao chegarem ao local, encontraram uma área abandonada e iniciaram os trabalhos, construindo cabanas para rituais, seis ocas e roças comunitárias para cultivo. Já estão produzindo artesanatos para comercialização local, demonstrando a retomada como um movimento multifacetado de resistência.

O líder do movimento declarou, com firmeza, “Esse local aqui é dos nossos ancestrais e do nosso povo também e estamos aqui lutando pelos nossos direitos”, enquanto integrava parte do mutirão que estava construindo uma cabana do povo, para fortalecer o território e os Encantados de seu povo. Segundo ele, a descoberta de diversos artefatos indígenas antigos, como potes de barro, e uma jaqueira plantada há mais de 250 anos pelos Kariri-Sapuyá, são provas incontestáveis de que aquele território pertence a eles. 

Após três dias de retomada, o major da polícia realizou uma reunião com os indígenas devido à preocupação dos fazendeiros locais. Foi assegurado que a ocupação se restringiria àquela área, aguardando as decisões da FUNAI e da Justiça para a demarcação oficial do território. O prefeito da cidade também mostrou apoio após uma reunião, acalmando fazendeiros e posseiros da região.

A retomada é pacífica, sem conflitos e sem brigas, uma luta em paz, em nome da vida e da alegria de um povo. A população local apoia os indígenas, abraçaram a retomada com muito carinho e respeito, pois muitos da região tem suas próprias origens nos indígenas Kariri-Sapuyá. “Sejam muito bem vindos, aqui é de vocês mesmo”, disse um dos moradores. 

Em nome da UNI, os guerreiros fizeram a entrega de mais de 400 brinquedos para as crianças da cidade, além de trazer pula-pula, escorrega e máquina de algodão doce para uma grande celebração de natal, que contou com apresentações culturais e palestras para a população local. O ano-novo também foi de muita celebração, já em seu território ancestral, os guerreiros comemoraram com um grande ritual de festa e fortalecimento.

Pedra Branca é um dos locais mais antigos da região, onde os Kariri-Sapuyá iniciaram a povoação. A história da Aldeia Pedra Branca é marcada por conflitos entre indígenas, autoridades públicas e colonos locais. Os Kariri-Sapuyá enfrentaram processos de exclusão da administração pública da vila e, principalmente, a usurpação de suas terras. Por conta disso, reivindicam uma légua e meia de terra, herdado de seus antepassados, portanto são os legítimos donos. Esse conflito resultou na extinção da municipalidade e do aldeamento, na invasão das terras por posseiros e na dispersão dos indígenas. Agora, eles retornam para reivindicar o que é seu por direito. Em retomada desde o dia 10 de dezembro, o grupo Kariri-Sapuyá chegou em um ônibus à Pedra Branca, cantando e dançando. 

Antes do contato com colonizadores brancos, a região abrigava os índios Kariris e Sabujas, descendentes dos Tupinambás. A Aldeia Pedra Branca, originária do aldeamento de índios Kariris, foi a base para a formação do Município de Santa Terezinha. A história registra a construção de uma casa-forte por Gabriel Soares para proteção contra os índios.

Representando a UNI, os Kariri-Sapuyá solicitam apoio para garantir o reconhecimento e a demarcação efetiva de seu território. A demarcação é vital para preservar os direitos territoriais, culturais e sociais dos povos indígenas.

A retomada indígena em Pedra Branca é um chamado urgente sobre a importância da preservação dos territórios tradicionais, o reconhecimento e demarcação dessas terras não são apenas uma reivindicação histórica, mas uma necessidade para garantir a justiça e a perpetuação de suas culturas. A  luta pela Aldeia Pedra Branca, sob os passos decididos dos Kariri-Sapuyá, vai ecoar não apenas nas montanhas da Serra da Jiboia, mas em todo o país.