PREÇOS AQUECIDOS: queimadas e seca em todo o Brasil devem elevar custos finais dos alimentos

Secom CONAFER

A maior seca dos últimos 44 anos somada aos milhares de focos de queimadas espalhados pelo país, já causam impacto no preço do açúcar, feijão, hortifrutis, carnes, leites e derivados. Outros itens também entram nesta lista dos alimentos que devem chegar mais caros na mesa dos brasileiros. Justamente no momento que o país tem a inflação sob controle, ajustada na meta, corre-se o risco de haver um descontrole neste segundo semestre. Estima-se que o feijão tenha um aumento de 40% até o final do ano. O açúcar cristal já subiu na cotação da Bolsa de Valores. O valor da arroba do boi gordo no atacado deve subir mais de 2%. Frutas e hortaliças também tiveram perdas nas produções, o que deve comprometer o abastecimento nas Ceasas. Os efeitos das queimadas vão muito além dos prejuízos imediatos nos preços dos alimentos. Além de aumentar o custo de vida da população, a devastação ambiental compromete a produção agrícola e a recuperação do solo a longo prazo 

Os incêndios e queimadas que atingem várias regiões do Brasil têm gerado impactos importantes na economia, especialmente no setor de alimentos. O preço de produtos essenciais, como açúcar, feijão e carne, tem sofrido aumentos consideráveis, refletindo a escassez de oferta e os prejuízos causados aos produtores.

Consumidores devem sentir os efeitos das queimadas nas gôndolas dos supermercados

O açúcar cristal e refinado está entre os produtos mais afetados. Com áreas de cultivo de cana-de-açúcar sendo devastadas pelo fogo, o preço do açúcar subiu expressivamente na Bolsa de Valores. Este impacto será sentido tanto no mercado interno quanto nas exportações, que representam 75% da produção de açúcar do país. Como maior produtor mundial de cana-de-açúcar, o Brasil lidera as exportações no setor, que já atingiram U$ 8,69 bilhões neste ano. Outro alimento que enfrenta alta de preços é o feijão, cuja inflação pode chegar a 40% até o final do ano. O repasse dos custos para o consumidor final é inevitável, embora não haja previsão de falta do produto nos supermercados. 

Com áreas de cultivo de cana-de-açúcar sendo devastadas pelo fogo, o preço do açúcar subiu expressivamente na Bolsa de Valores

Frutas como laranja, melancia e banana também estão enfrentando aumentos. A baixa safra prevista e os estoques reduzidos de suco de laranja, conforme análise da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), devem manter os preços altos por mais tempo. A irregularidade das chuvas prejudicou o desenvolvimento das bananas, enquanto a produção de melancia, especialmente em São Paulo e Goiás, enfrenta perdas devido aos extremos climáticos. No setor de hortaliças, produtos como cenoura e tomate, que já possuem ciclos de alta e baixa, podem sofrer ainda mais com a seca prolongada, afetando as lavouras sem sistema de irrigação adequado.

O preço da carne bovina deve subir devido à escassez de pasto seco, o que força os pecuaristas a complementar a alimentação do gado com ração, elevando os custos de produção. No atacado, a arroba do boi gordo pode aumentar em 2,47%. O impacto será sentido também no preço do leite e derivados, como manteiga e requeijão. Outro aspecto a ser considerado é o aumento na demanda por outras carnes, como suína e de frango.

O impacto das queimadas nos pastos será sentido também no preço do leite e derivados, como manteiga e requeijão

Além dos prejuízos econômicos imediatos, as queimadas têm um impacto duradouro sobre o solo e a biodiversidade. A perda de nutrientes essenciais, como carbono e nitrogênio, pode comprometer a produtividade das terras agrícolas nos próximos anos. Pesquisas indicam que a recuperação do solo afetado pelo fogo pode levar até 3 anos e demandar altos custos para os produtores. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam um crescimento alarmante no número de focos de queimadas em agosto de 2024. Foram registrados 68.635 focos, um aumento de 144% em comparação ao mesmo período de 2023. As regiões Centro-Oeste e Norte são as mais afetadas, com destaque para municípios como Corumbá (MS) e São Félix do Xingu (PA).

O fenômeno El Niño, que trouxe chuvas intensas ao Sul do país no primeiro semestre, agora cede espaço à La Niña, intensificando a seca nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Esses eventos climáticos extremos, combinados com o avanço das queimadas, colocam o Brasil em uma situação de vulnerabilidade no abastecimento do mercado interno, o que pode gerar um viés inflacionário no atual cenário econômico.