LAVOURA EM PERIGO NO DF: clima traz prejuízos aos produtores do Distrito Federal; há risco de desabastecimento de legumes e hortaliças

Secom CONAFER

Considerada uma das poucas capitais do mundo com área rural e autossuficiência na produção de alimentos agrofamiliares, Brasília tem uma cadeia produtiva que tradicionalmente serve toda a sua população. Agora, com os ventos do clima chuvoso soprando contra, a alta nos valores de comercialização de legumes e hortaliças traz os riscos de desabastecimento. Os elevados índices pluviométricos têm impactado a produção desses alimentos na região do DF e consequente disponibilização para o mercado atacadista. Assim, o excesso hídrico que atingiu o planalto central nos últimos três meses, registrando, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em dezembro, cerca de 78% a mais do volume hídrico da média histórica mensal para o período, impactou drasticamente a produção agrofamiliar, reduzindo a qualidade e quantidade dos produtos, diminuindo a oferta nas Centrais de Abastecimento (Ceasa) e elevando os preços para o consumidor final

No Distrito Federal, dos 5.779 quilômetros quadrados de área destinados à produção rural, segundo informações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater), aproximadamente 3 mil são de áreas rurais destinadas ao plantio de hortaliças e grãos, o equivalente a 1,55 mil km². Com o excesso de chuvas ocorridos nos últimos seis meses, produtores rurais sofreram com enchentes e alagamentos, prejudicando as lavouras e comprometendo a produção, o que na prática diminui a oferta e a qualidade do produto no mercado, aumentando o valor no repasse direto ao consumidor.

“Hortaliças e leguminosas representaram alimentos de maior inflação no prato dos brasilienses nos últimos três meses”

O volume das precipitações no mês de novembro chegou a 249 milímetros, isso apenas nos primeiros 20 dias, o que representou um aumento de 10% em relação ao previsto pelo Inmet, e dezembro foi considerado o mês mais chuvoso dos últimos 7 anos. Ainda de acordo com o órgão, o excesso hídrico deve permanecer de janeiro a abril, com precipitações de até 50 milímetros por dia, levando ainda mais transtornos aos produtores rurais, que sofrem com as lavouras encharcadas e as dificuldades em realizar o controle fitossanitário, o que leva ao aumento da incidência de doenças fúngicas nas plantas.

“Venda de Hortaliças na Ceasa do Distrito Federal (Foto: Dênio Simões/Agência Brasília; Ano:2015)”

Segundo a Emater DF, de acordo com um levantamento realizado pelos seus escritórios locais, a produção de hortaliças na região, gera mais de 30.000 empregos em toda a cadeia produtiva, sendo exercida por mais de 2.500 empreendedores rurais e representando cerca de 83% dos agricultores familiares. Apesar de a olericultura (culturas folhosas, raízes, bulbos, tubérculos, frutos diversos e partes comestíveis de plantas) no planalto central ter um desempenho inferior à sua potencialidade, a área plantada foi de 7.887,960 hectares de espécies diversificadas, produzindo mais de 202 mil toneladas de alimentos, conforme o relatório “Informações Agropecuárias do Distrito Federal 2020” deste órgão.

As consequências do excesso hídrico devem perdurar pelos próximos meses, podendo levar a escassez de alguns legumes e hortaliças no mercado atacadista e, em consequência, na mesa do brasiliense, além de prejuízos e queda na renda de diversas famílias de produtores rurais. A tendência é de que a situação necessite de até dois meses para ser normalizada, após cessarem as chuvas, devido ao fato de que há uma demora no ciclo desses produtos no seu plantio e colheita.

Alimentos como alface, agrião, couve, repolho e couve-flor, tiveram, segundo o calendário de comercialização divulgado pela Ceasa do DF, entre os meses de setembro a dezembro do ano passado, uma tendência de elevação dos preços, ocasionada pela menor oferta do produto registrada no mercado local. Embora seja considerado normal esse fenômeno de elevação dos valores e queda na qualidade desses itens durante períodos chuvosos, houve uma atipicidade no volume que impactou severamente sua produção e comercialização, levando os consumidores a mudarem de hábito, buscando por produtos substitutos como pepino, pimentão, quiabo, tomate e vagem, que apresentaram tendência de preços mais baixos.

Ainda que agricultores familiares possam contar com políticas públicas e programas de seguro rural, como auxílio na superação de estiagem ou excesso de chuvas, mitigando os danos com a perda de safra, se faz urgente reduzir a burocracia diante da necessidade de iniciativa de órgãos governamentais na elaboração de decretos municipais de calamidade e emergência entre outras ações emergenciais, para a liberação dos recursos pelas instituições financeiras. A CONAFER apoia o manejo sustentável das lavouras, a recuperação de áreas degradadas e preservação da biodiversidade, o que ajudaria muito na absorção da água pelos solos e no escoamento do seu excesso de forma facilitada.

“Os legumes e hortaliças, a exemplo deste pé de alface, ficaram murchos e se estragaram com o excesso de chuvas – foto: G1”

Os produtores que tiveram suas safras afetadas pelas chuvas precisarão de toda a assistência na elaboração de projetos para recuperação de estruturas danificadas nas propriedades rurais, para que sua produção volte a ser vigorosa, atendendo a demanda do mercado, que além de exigir maior volume na produção de alimentos, requer que esses possuam qualidade sanitária e sejam produzidos em sistemas sustentáveis. Quem agradece é o consumidor que pode ter nas hortaliças e legumes uma alternativa saudável e de menor custo para compor sua alimentação diária.

Volume de chuva
Estação de Águas Emendadas (Planaltina)
Dezembro de 2021: 391,8mm — 62% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 110,4mm

Estação de Brasília
Dezembro de 2021: 387,4mm — 60% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 127,8mm

Estação de Brazlândia
Dezembro de 2021: 429,8 mm — 78% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 246,4mm

Estação do Gama
Dezembro de 2021: 309,6 mm — 28% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 162,6mm

Estação do Paranoá
Dezembro de 2021: 424,4 mm — 76% acima da média
Janeiro de 2022 (até 13/1): 72,0mm

Fonte: Inmet