INFLAÇÃO NO CAMPO: instabilidade climática prejudica produção de alimentos e eleva preços em janeiro

Secom CONAFER

Legumes, frutas e verduras foram os grandes vilões da inflação do mês de janeiro, segundo levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado no último dia 15. Enquanto alguns agricultores amargam prejuízos pelo clima instável, aqueles que salvaram suas plantações podem ver seus produtos por um preço maior. Já os consumidores em todo o país não têm outra alternativa, a não ser pagar mais caro pelos alimentos. A alta dos preços afeta, principalmente, regiões com decretos de emergência ou calamidade pública, como os 397 municípios do Rio Grande do Sul, 100 em Santa Catarina e 130 no Paraná atingidos pela seca. E nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, com 416 cidades em Minas Gerais, 200 na Bahia, 38 no Tocantins e 17 no Pará, em função dos excessos hídricos. A queda de produção atinge mais as famílias de baixa renda, pois a alta de preços tem o peso do dobro da inflação para elas, que atingiu 10,38% no acumulado dos últimos 12 meses. A imprevisibilidade do clima com possível queda na produção hortifrutigranjeira, aumenta o risco de insegurança alimentar no país pela pressão inflacionária, porém é oportunidade para o pequeno produtor mais preparado e experiente no cuidado da sua lavoura

A baixa oferta de alimentos foi, segundo o IPEA, a responsável pela alta inflacionária do mês de janeiro, prejudicando o orçamento e a saúde alimentar de milhões de brasileiros de baixa renda em milhares de cidades. No campo, muitos produtores têm dificuldades de manter a produção a níveis satisfatórios, além da administração dos recursos e cumprimento dos compromissos assumidos frente às instituições financeiras. Esta é a realidade vivida por milhares de agricultores familiares em todo país, que tiveram suas lavouras afetadas por mudanças climáticas ocorridas, principalmente, nos últimos seis meses, levando a uma escassez de alimentos como hortaliças, leguminosas e frutas.

De acordo com o IPEA, enquanto itens da cesta básica apresentaram leve queda na inflação durante o mês de janeiro, como o preço do arroz cuja redução foi de 2,7%, e o feijão, que teve um decréscimo de 3,0%, os produtos in natura tiveram um aumento significativo, como a cenoura, que teve 27,6% de acréscimo, a laranja, 14,9%, e a banana, com 11,7% de elevação. Esses dados consolidam a tendência apontada pelo Instituto, nos últimos dois anos, das inflações mais altas da série histórica, com preços que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), sobem em média 28%.

A tendência é de que a alta de preços dos alimentos se mantenha no decorrer deste ano e avance nos anos seguintes, elevando os riscos de insegurança alimentar das populações mais pobres do Brasil, que por ter seu consumo básico nestes itens essenciais sofrem de forma desproporcional o impacto da inflação em seus orçamentos. Segundo o Indicador IPEA de inflação por Faixa de Renda (IPCA), no mês de janeiro, a inflação pesou o equivalente ao dobro da taxa, atualmente em 10,38% no saldo acumulado, para as famílias mais pobres do que para as pessoas de renda mais alta.

As chuvas em grande parte do país, exceto nas regiões Sul e Nordeste, e que devem permanecer até o mês de abril, provocaram queda de produtividade nas lavouras e reduziram a oferta dos produtos nos mercados. Itens de cesta básica como a batata, que teve oferta recorde no final do ano passado, em janeiro deste ano sofreu alta em seu preço, na maioria dos mercados atacadistas como Goiânia (GO), onde chegou à marca de 39,70%, e Belo Horizonte (MG), com elevação de 37,60%. A tendência de crescimento nos preços é observada neste início do mês de fevereiro, sinalizando a economistas e consumidores que a safra de verão ainda não é capaz de suprir a demanda do mercado.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou, na última quinta-feira, 17, o 2º Boletim do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort), que aponta para a redução da demanda, diminuindo o consumo destes alimentos em escala, como uma alternativa para os consumidores economizarem nas compras de frutas e hortaliças. Este foi o caso da laranja e do mamão, cuja fraca demanda durante os primeiros 20 dias do mês de janeiro, deixaram estes produtos até 20%, em média, mais baratos em todo o Brasil.

Em fevereiro, com as fortes chuvas nas áreas produtoras as cotações se mantêm elevadas, e itens como a cebola, segue a alta inflacionária em todos os mercados analisados pela Conab, com taxa mais alta em Brasília (DF), de 23,17%, seguida por Vitória (ES), com percentual de 13,61%, e Campinas (SP), com 12,30%. A queda na oferta se deveu a ocorrência de menores investimentos anteriores, de perdas nas lavouras e da qualidade das culturas, que são muito sensíveis aos problemas climáticos e foram drasticamente afetadas pelo excesso hídrico nas principais regiões produtoras dessas culturas, como a cenoura, que chegou a custar nas Centrais de Abastecimentos (Ceasas) de Fortaleza (CE) 138,53% a mais, 113,10% em Vitória (ES), e 103,78%Goiânia (GO).

Enquanto o preço da batata, da cenoura e da cebola, hortaliças mais consumidas no Brasil, segue em alta, a alternativa encontrada pelos consumidores é a substituição desses itens por produtos que tiveram uma redução nos preços, a exemplo da rúcula e da abóbora, no estado de São Paulo, que sofreram uma redução de 18% e 13%, respectivamente. Ainda de acordo com a análise feita pela Conab a respeito dos preços praticados na Ceasa paulista, o pimentão apresentou uma queda de 11% em seu valor, o alho de 8%, e a vagem de 6%, suavizando o impacto no orçamento familiar dos mais pobres.

Além de prejudicar a produtividade das safras e aumentar os riscos de insegurança alimentar, fatores como sucessivos reajustes nas tarifas de energia, aumento dos preços dos fertilizantes, alterações climáticas e compromissos de crédito assumido junto às instituições financeiras anteriormente, dificultam a retomada da produção no campo e colocam muitas famílias de agricultores em situação de vulnerabilidade social. Sem a colheita necessária para obter novas subvenções e quitar os financiamentos já realizados, muitos produtores rurais enfrentam incertezas sobre sua própria subsistência e continuidade das suas atividades agrícolas.

A CONAFER, por meio de sua equipe técnica, tem ampliado sua atuação em diversas regiões do país, para conscientizar agricultores sobre a importância de se organizar em forma de Associações e Cooperativas, fortalecendo a categoria na luta pelo acesso ao crédito e na construção de políticas que os ajudem no enfrentamento dos desafios.