Indígenas Pataxó-hã-hã-hãe é assasinada na Bahia

“Dois fazendeiros pertencentes ao grupo intutulado Invasão Zero foram presos”

José Carlos Bossolan

Mais um capítulo trágico na história recente de assassinatos de povos originários ganharam mais um contorno escuro neste domingo (21/01). Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó foi assassinada Potiraguá, no sul da Bahia, em conflito envolvendo a fazenda Inhuma, nas proximidades da TI (Terra Indígena) Caramuru-Catarina Paraguassu.

Nega Pataxó, irmã do cacique Nailton Muniz Pataxó, do povo indígena Pataxó-hã-hã-hãe, foi executada com arma de fogo. O conflito aconeceu na fazenda que desde a última quinta-feira estava ocupada pelos indígenas que reivindicam a posse do imóvel. Segundo relatos, cerca de 200 fazendeiros pertencentes ao grupo “Invasão Zero”, convocaram seus membros e adeptos para promover a reintegração com conta própria.

Segundo informação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), além de Nega Pataxó, o cacique Nailton Pataxó foram baleados. O estado de saúde deles não foi informado até este momento. Além disso, duas pessoas foram espancadas, uma mulher teve o braço quebrado e outras pessoas foram hospitalizadas, mas sem gravidade.

Dois fazendeiros foram presos por porte ilegal de arma. De acordo com a Apib, a retomada de uma fazenda por parte dos indígenas como parte do território Caramuru teve início na madrugada de sábado (20). Após mobilização dos ruralistas da região pelo Whastapp, os indígenas foram cercados por homens que chegaram ao local com dezenas de caminhonetes.

“Reprodução/Pataxó Hã-Hã-Hãe”

A mobilização via internet convocava os fazendeiros e comerciantes para realizar a reintegração de posse da fazenda com as próprias mãos. “A região enfrenta os desmandos de fazendeiros invasores que se dizem proprietários das terras tradicionais e acusam o povo de ser ‘falso índio’. A aprovação do marco temporal acentua a intransigência dos invasores, que se sentem autorizados a praticar todo tipo de violência contra as pessoas”, critica a Apib.

Grupo "Invasão Zero" reuniu fazendeiros da região para expulsar indígenas que ocuparam fazenda
“Grupo “Invasão Zero” reuniu fazendeiros da região para expulsar indígenas que ocuparam fazenda – Imagem: Reprodução”

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram um dos feridos no chão, cercado pelo grupo de ruralistas comemorando a ação violenta, narra a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Policiais, informou a Apib, teriam participado dessa violência contra os indígenas. “Exigimos acompanhamento das autoridades e apuração do caso. Reiteramos que a demarcação das terras indígenas é o único caminho para amenizar a escalada de violência que atinge os povos da região sul da Bahia”, disse a Apib, por meio de nota.

A comunidade Pataxó se pronunciou através de um perfil no Instagram. “Atearam fogo em dois carros dos parentes. Diversos indígenas foram baleados em diferentes locais do corpo. Não iremos aceitar que continuem a derramar o sangue dos nossos parentes em nosso território” – relatam.

Uma comitiva do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), liderada pela ministra Sonia Guajajara, embarca para a região nesta segunda-feira (22). Através do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas, o MPI acompanha o caso desde que recebeu as primeiras informações e está fazendo interlocuções com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), incluindo diretamente a Polícia Federal (PF), com o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Secretaria de Segurança da Bahia.

Representantes do Ministério, que estiveram recentemente no sul da Bahia, discutindo questões territoriais com as lideranças Pataxó Hã Hã Hãe, também estão em contato com a Coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia, para garantir o cuidado com os feridos.

Com Agência Brasil.