Fundo Eleitoral e distribuição de recursos mostram abismos entre sexos e detentores de mandatos

“enquanto alguns obtém valores irrisórios, e outros abocanham cifra milionária”

José Carlos Bossolan

O Fundo Eleitoral destinado a partidos políticos, cujo dinheiro público deveria ser utlizado para dar oportunidade de igualdade entre postulantes a cargos eletivos. Mas na prática, o que se vê é o emprego dos recursos, para custear campanhas de “caciques” partidários. Os dados foram levantados nesta quarta-feira (28/09), no sistema de candidaturas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a vagas de deputado federal.

Em um dos casos, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), que abriga o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que após ter seu mandato de deputado federal cassado em setembro de 2016, também foi preso no âmbito da Operação Lava Jato entre 2016 a 2020. Eduardo Cunha trocou de domicílio eleitoral do Rio de Janeiro para São Paulo, onde concorre novamente ao cargo de deputado federal, com deferimento de registro pelo TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo), mas o Ministério Público Eleitoral, recorreu e ainda está pendente de julgamento final.

Beneficiário de R$ 1,470 milhão do Fundo Eleitoral, destinado por seu partido até esta quarta-feira (28/09), o candidato Eduardo Cunha ainda “goza de prestígio” político, mas revela o abismo entre outros candidatos de diferentes sexo, como o caso da candidata ao mesmo cargo, advogada Rose Moreira, que recebeu apenas R$ 15 mil do PTB.

Mesmo entre mulheres, há diferença de repasses de valores, mesmo para candidatas ao mesmo posto do legislativo. Adriana Ventura, do partido NOVO e candidata a reeleição na Câmara dos Deputados, recebeu R$ 45,6 mil do seu partido, contra R$ 1.241,53 da candidata postulante ao mesmo cargo, Cibele Franco. O partido renunciou ao Fundo Eleitoral, mas mesmo entre mulheres, á critérios diferentes para divisão de valores da agremiação, mas conta com grupos de empresários que doam para os candidatos do partido.

No PL (Partido Liberal), o candidato a reeleição de deputado federal, capitão Augusto, teve a destinação por parte de seu partido de R$ 500 mil, contra R$ 85.399,89 da também “colega de farda” e postulante ao mesmo cargo, bombeira sargento Brandão. Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, e candidato a reeleição de deputado federal, recebeu ainda mais do PL, sendo R$ 800 mil para bancar sua campanha.

No PSDB, a falta de dinheiro levou a desistência da presidente da Câmara de Murutinga do Sul, Anuxa Sales, que concorreria a uma vaga de deputada federal. Segundo a vereadora, sem recursos para a campanha e com pouco tempo para organizar a campanha, a melhor alternativa foi renunciar, sem ter recebido nenhum valor do partido. O valor de R$ 100,00 arrecadas, foram 2 doações de populares.

“Na verdade eu tive muito pouco tempo. Eu recebi o convite também muito em cima e  eu vi nesse convite, uma oportunidade continuar ajudando a minha cidade politicamente, mesmo sabendo que essa é uma luta constante para conseguir muitos votos. Mas a minha vida nunca foi fácil. Fui levada por um desafio. Acabei topando mas com muito pouco tempo de campanha, sem recurso, e eu não tenho condições financeiras para bancar uma campanha, as pessoas que gostam de mim começaram a me dar conselho para que eu pensasse melhor, porque todo mundo viu meu esforço de estar trabalhando, correndo atrás mesmo sem ter condições. Faltando um mês de campanha eu tomei essa decisão de desistir” – comentou Anuxa a nossa reportagem, cuja candidata já estava com registro deferido pelo TRE-SP.

Adriana Zink, recebeu do PSDB, 51.590,90 para disputar a vaga na Câmara Federal, enquanto seu colega de partido, Eduardo Cury, recebeu R$ 1,432 milhão para arcar com as despesas de campanha de reeleição a uma vaga de deputado federal. Joice Hasselmann, é uma exceção no ninho tucano. A parlamentar que migrou para o PSDB, já recebeu R$ 3,221 milhões para bancar sua campanha a reeleição.

No Solidariedade, o deputado federal, Paulinho da Força, que teve seu registro de candidatura indeferido e aguarda decisão recursal, já recebeu do partido, mais de R$ 1,556 milhão, contra R$ 278.222,54, da candidata ao mesmo cargo, Aline assistente social. Com orçamento de R$ 4.961.519.777,00, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, popularmente conhecido como Fundo Eleitoral, representa a maior soma de recursos já destinada a bancar campanhas políticas desde sua criação em 2017.

Os valores do fundo custeado com dinheiro público, deveria ter critérios mais definidos, com divisão em partes iguais a postulantes ao mesmo cargo, mas na prática, continua bancando políticos tradicionais e fomentando “candidaturas laranjas”, com poucos investimentos e manutenção de “puxadores ou caciques” partidários com mandatos eletivos.

No PT (Partido dos Trabalhadores), a realidade não se difere das demais agremiações políticas. A candidata a deputada federal, Atagiba, recebeu R$ 90 mil do partido, enquanto o candidato a reeleição, Carlos Zarattini, foi contemplado com R$ 1,8 milhão do partido.