“Manifestação foi convocada pelo ex-presidente em meio às investigações sobre a participação dele em uma tentativa de golpe de Estado. Em discurso, negou a tentativa de golpe. Manifestação ocupou 7 quarteirões da avenida”
G1
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu anistia aos presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro em discurso durante um ato neste domingo (25) na Avenida Paulista. O ato foi convocado por Bolsonaro e ocupou cerca de 7 quarteirões da via. Além do ex-presidente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes e outras autoridades também marcaram presença.
“O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar maneira de nós vivermos em paz. É não continuarmos sobressaltados. É por parte do Parlamento brasileiro (…) uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. A conciliação. Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Agora nós pedimos a todos 513 deputados, 81 senadores, um projeto de anistia para seja feita justiça em nosso Brasil”, disse o ex-presidente.
Bolsonaro também negou ter tentado dar um golpe de estado. O ex-presidente, ex-ministros e assessores e militares são alvos de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga essa tentativa de golpe. Os apoiadores começaram a chegar pela manhã e os discursos tiveram início por volta das 14h30.
Bolsonaro chegou por volta das 15h, acompanhado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nesse horário, segundo um levantamento de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) reunia cerca de 185 mil pessoas – o ápice da manifestação. Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, também esteve no ato, mas não discursou.
Além de Bolsonaro, discursaram o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto; a ex-primeira-dama, Michelle; o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o pastor Silas Malafaia e parlamentares apoiadores do ex-presidente. Em geral, os discursos fizeram a defesa de Bolsonaro e do governo do ex-presidente.
Valdemar falou antes da chegada de Bolsonaro – os dois estão proibidos de se encontrar por serem ambos investigados pela tentativa de golpe. O presidente do PL disse que, graças aos eleitores de Bolsonaro, a legenda se tornou o “maior partido do Brasil”. A ex-primeira-dama fez um discurso de motivação religiosa.
“Desde 2017, nós estamos sofrendo, nós estamos sofrendo por exaltarmos o nome de Deus, porque o meu marido foi escolhido e porque ele declarou que era Deus acima de tudo”, disse Michelle.
Minuta do golpe
Bolsonaro foi o último a falar. Ele começou o discurso relembrando sua carreira política, o atentado sofrido durante a campanha de 2018 e “aquilo que aconteceu em outubro de 2022” – em referência à eleição em que foi derrotado ao tentar se reeleger. “Vamos considerar isso uma página virada na nossa história”, afirmou.
O ex-presidente, então, disse ser perseguido e negou estar envolvido em qualquer tentativa de golpe de Estado. “O que é golpe? Golpe é tanque na rua. É arma, é conspiração. É trazer classes políticas para o seu lado. Empresariais. É isso que é golpe. Nada disso foi feito no Brasil. Fora isso, por que continuam me acusando de golpe? Agora o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição?”.
Em 2023, a Polícia Federal encontrou na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, uma minuta de decreto que previa a instauração de um estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e mudar o resultado da eleição de 2022. Em 2024, a PF encontrou uma outra minuta de decreto, desta vez no escritório de Bolsonaro na sede do PL, em Brasília. O documento previa a instauração de um estado de sítio no Brasil “jogando dentro das quatro linhas” – uma expressão usada regularmente pelo ex-presidente.
Há, ainda, uma terceira minuta de decreto, segundo relato do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, apresentada ao ex-presidente em novembro de 2022, no Palácio do Alvorada, que previa a realização de novas eleições e a prisão de autoridades. Segundo a PF, Bolsonaro pediu ajustes no documento, excluindo a prisão de algumas dessas autoridades, mas mantendo a previsão de um novo pleito.
Tarcísio de Freitas agradece Bolsonaro e o chama de amigo
Ex-ministro de Bolsonaro e eleito governador de SP com o apoio dele, Tarcísio de Freitas falou antes do ex-presidente. Tarcísio agradeceu Bolsonaro, a quem chamou de amigo. “Eu não vou chamar nem de presidente agora, vou chamar de Bolsonaro, meu amigo Bolsonaro. Você não é mais um CPF, você não é mais uma pessoa, você representa um movimento”, afirmou.
Tarcísio também fez elogios ao governo de Bolsonaro e disse que o público “estava com saudade de vestir o verde e amarelo.”
O pastor Silas Malafaia falou em seguida. Disse que não iria atacar o Supremo Tribunal Federal, mas criticou as investigações contra o ex-presidente, que tramitam na Corte, e os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
Camisetas amarelas
Os apoiadores do ex-presidente chegaram ao local nas primeiras horas da manhã, com bandeiras do Brasil e camisetas amarelas. Alguns portavam bandeiras de Israel. Na última semana, o governo de Benjamin Netanyahu foi criticado por Lula, que chamou de genocídio a morte de palestinos em Gaza e comparou as ações do Exército israelense ao extermínio de judeus por nazistas no Holocausto. Em resposta, Israel declarou Lula “persona non grata”, o que significa que sua presença não é bem-vinda.
Alguns apoiadores levaram cartazes contrários ao comunismo e com lemas em defesa da pátria e da família.
Lista de presentes
Estavam presentes no ato: Jair Bolsonaro; a ex-primeira-dama Michelle; o pastor Silas Malafaia; os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL); o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto – ele discursou antes da chegada de Bolsonaro; o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI); os deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carla Zambelli (PL-SP); o senador Magno Malta (PL-ES); o ex-deputado federal João Roma (PL); e outros.