“futuro médico é filho dos militantes da reforma agrária, Diolinda e José Rainha”
José Carlos Bossolan
No final deste ano, deverá ser um marco de realização pessoal e profissional para o jovem João Paulo de Souza Rainha, 27 anos que irá colar grau em medicina.
Bolsista do Prouni (Programa Universidade para Todos) na Faculdade Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) de Presidente Prudente, o futuro médico João Paulo, teve uma vida muito sofrida e de dificuldades como a maioria dos brasileiros, mas não desistiu de seu sonho. Nascido 25 de agosto de 1993 em Mirante do Paranapanema, em uma época que os conflitos agrários no Pontal do Paranapanema estava se intensificando – “na época dos conflitos marcou muito minha vida. Foi na época da Santa Rita que teve bastante conflito” – relatou João Paulo com exclusividade ao O Foco, período em que aos 8 anos, em 19 de janeiro de 2002, viu seu pai sendo baleado nas constas ao sair de uma ocupação da fazenda Santa Rita.
João Paulo é filho da também militante pró-reforma agrária, Diolinda Alves de Souza com José Rainha Juniur, tendo como irmã Sofia de Souza Rainha e pai João Pedro Cândido Rainha – “hoje posso te dizer que me sinto realizado, pois apesar de toda dificuldade que passei não só na faculdade, mas antes dela, época pré vestibular que foi no período da prisão do meu pai (isso foi na primeira que tentei fazer o curso). Em 2015 finalmente consegui passar no vestibular. Durante o primeiro período que é mais dentro da sala de aula tive alguns problemas com alunos, e alguns professores por causa de ter uma orientação política de esquerda, ser filho do Zé Rainha e um sem-terra, me fazendo pensar até em desistir. Além da dificuldade diária que eram as matérias, os problemas que a vinha impunham que não era nada fácil. Na atualidade tenho que reconhecer que durante os anos, as coisas foram mudando e também hoje me sinto privilegiado, pois muitas pessoas me respeitavam e criei várias amizades que espero durar a vida toda” – relembrou o futuro médico.
Estudante de escola pública, João Paulo conseguiu atravessar as dificuldades cotidianas e do curso, sonha se especializar em ortopedia e que mais filhos de trabalhadores tem melhores oportunidades. Prestou vestibular algumas vezes, até conseguir a aprovação em medicina. “Meu sonho são dois. Um é simplesmente poder fazer a diferença, pretendo ser especialista na área da ortopedia, ajudar quem precisa, isso é o dever de todo médico o mínimo que posso fazer é honrar. O segundo é que todo filho de um trabalhador seja ele assentado ou não, tenha condições de ter uma educação de qualidade e que possa realizar seus sonhos. Vários países provaram que a educação é o melhor método para o ser humano evoluir, e o Brasil precisa disso, por que só assim vamos quebrar as barreiras da fome, miséria, desigualdade social, enfim, é incluir os excluídos na sociedade. Só quero um Brasil justo e que todos tenha oportunidade” – destacou João Paulo.
O estudante de medicina é bem focado em suas origens e espera nunca se desvirtuar e esquecer de onde veio e qual seu papel na vida – “de uma coisa é certo. Eu apesar de ser novo na medicina, jamais vou perder meus princípios e esquecer da minha origem. Isso ninguém tira de mim”.
Para José Rainha a formação do filho é um marco – “A grande importância para todos nós é a demonstração que se todos tiverem oportunidade neste país, de ter uma bolsa escolar como João Paulo teve com o Prouni, nós não teríamos milhões de brasileiros sem ter o direito a um atendimento médico então precisaríamos importar médicos de outros países. João Paulo é a causa da luta dos pobres, dos sem-terra, dos negros índios. É um exemplo para toda juventude da reforma agrária, que precisa lutar pelos seus direitos. Ele será espelho para todos, porque ele será um médico que não só tem diploma. Seu diploma maior é sua ideologia de classe como maior patrimônio, que terá para sempre em sua vida. Ele tem causa que é a da luta pela liberdade da classe trabalhadora. É um orgulho para todos nós da FNL” – enaltece José Rainha, líder da FNL (Frente Nacional de Lutas – Campo e Cidade).
Em sua infância e adolescência, João Paulo acompanhou os pais em eventos sociais, em manifestações. Teve que conviver com a prisão dos pais, mas nunca se desvirtuou de seu objetivo; ser médico e agora só falta a colação de grau para começar desempenhar a função.