Secom CONAFER
Um estudo publicado na revista Science nesta última sexta-feira, 7 de março, revelou que as práticas indígenas, como a troca de variedades entre aldeias e a escolha de plantas espontâneas, ajudaram diretamente na construção de uma diversidade genética da mandioca nas Américas. A pesquisa foi feita por cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, e por instituições dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Dinamarca, Bolívia e Chile.
No total, os genomas de 573 variedades da mandioca foram analisados, apontando um forte parentesco genético entre elas. As aldeias indígenas, tradicionalmente, praticam a agricultura familiar e passam conhecimentos sobre a natureza de geração em geração. A CONAFER por meio da SEPOCS apoia, de forma permanente, os indígenas de todo o país com técnicas de produção agrícola, pois a Confederação sabe da importância dos povos originários na manutenção e conservação da biodiversidade
De acordo com o estudo publicado na revista Science, os povos indígenas tiveram um papel fundamental na expansão e variedade da mandioca, muito antes da chegada dos europeus. Foram eles que aprenderam a plantar, escolher os melhores tipos e criar formas de preparo, tornando essa raiz um alimento essencial no Brasil e no mundo. Graças ao conhecimento indígena, a mandioca, também conhecida como aipim e macaxeira, se espalhou por várias regiões e se adaptou a diferentes climas e solos. Hoje, o Brasil continua essa tradição e é o quinto maior produtor de mandioca no mundo.

Dados da pesquisa, feita pela Embrapa e outras instituições, mostram que o parentesco genético encontrado nas variedades da mandioca foi diretamente influenciado pela forma que os indígenas cultivam a raíz. A mandioca começou a ser cultivada há mais de seis mil anos no sul da Amazônia, em uma região que hoje inclui Acre e Rondônia. Os povos originários ajudaram a espalhar a mandioca em diferentes regiões do continente americano, fazendo uma troca entre as aldeias e escolhendo as melhores plantas que surgiam, garantindo sua qualidade ao longo do tempo.

O sucesso da dispersão dessa cultura pelos povos indígenas também foi comprovado no estudo, uma vez que os cientistas descobriram que graças às práticas indígenas as plantas da mandioca mantiveram os genes com quase nenhuma diferença ao longo dos anos. Isso possibilitou que a mandioca permanecesse com a mesma qualidade mesmo após 6 décadas de cultivo e em países diferentes. É como se todas as plantas fossem parentes próximas, muitas delas como mãe e filha. A pesquisa comparou uma amostra coletada em Cuba, em 1904, e descobriu que, geneticamente, ela é descendente de outra planta coletada na Amazônia, em 1961, por exemplo.

A mandioca é geralmente cultivada por clonagem, ou seja, novos pés de mandioca são formados a partir de pedaços da planta original, chamados manivas, sem precisar de sementes. As práticas tradicionais dos povos indígenas ajudaram a preservar e aumentar a diversidade genética da mandioca. Um exemplo disso é a Casa de Kukurro, uma tradição do povo Waurá, no Território Indígena do Xingu, em Mato Grosso. Durante o ritual, as diferentes variedades de mandioca são reunidas em montes ou covas, pois os indígenas acreditam que isso fortalece a energia das plantas. Essa prática também permite o cruzamento de variedades, gerando novas plantas a partir de sementes e o melhoramento genético da mandioca.

Outro exemplo é a prática da agricultura familiar nas aldeias indígenas para o cultivo da mandioca, que usa técnicas orgânicas e naturais para a produção agrícola sustentável. Sabendo disso, a Secretaria Nacional de Povos, Comunidades Tradicionais e Política Social da CONAFER, a SEPOCS apoia, de forma permanente, as comunidades indígenas na agricultura familiar. A Confederação ajuda os indígenas com suporte técnico que vai desde o cultivo e colheita, até a comercialização e geração de renda com os produtos agrícolas.
A missão da CONAFER é fortalecer a cultura indígena e ajudar na produção sustentável nas aldeias de todo o país, colocando a preservação do meio ambiente em primeiro lugar. Ao mesmo tempo, esta produção consciente feita pelos agricultores familiares indígenas mantém a qualidade das hortaliças e traz mais autonomia para os povos originários.