Wilson Ribeiro/Secom CONAFER
Já pensou em diversificar o seu plantio de hortaliças cultivando a Lens culinaris, popularmente conhecida por lentilha? Então, comece a considerar esta lucrativa possibilidade. O nosso país pouco produz deste grão conhecido há 7 mil anos pela humanidade por seu sabor e alto valor proteico, portanto muito apreciado pela culinária saudável.
Como importamos toda a lentilha que consumimos, e grande parte do maior produtor de lentilha do mundo, o Canadá, abre-se uma oportunidade de mercado: há demanda de consumidores e pouca oferta do produto. Mesmo que esta leguminosa tenha mais facilidade com o clima temperado do Sul, a Embrapa trabalha com a espécie há duas décadas, tendo introduzido o plantio no Centro-Oeste por meio de pesquisas com materiais de diferentes partes do mundo, e agora com os avanços do melhoramento genético das suas sementes, temos a garantia do aumento da produtividade e do retorno financeiro para os pequenos produtores de lentilhas.
A lentilha é um vegetal com fibras que auxiliam no controle do colesterol e diminuem a absorção de gorduras. Esta leguminosa de alto valor alimentício, importante fonte de proteínas, de vitaminas e minerais como cálcio e ferro, ajuda na perda de peso e na regulação do nosso sistema digestivo, além de ser fácil de cozinhar e proporcionar uma grande diversidade de cardápios.
Em países produtores e tradicionais consumidores, a lentilha verde também é comercializada enlatada. Flocos de lentilha, com aparência similar à de flocos de aveia, podem ser usados em barras nutritivas ou em cereais matinais com o benefício de ter o dobro do teor de proteínas dos cereais. Lentilhas na forma de purê são um ingrediente para bolos e pães, contribuindo para modificar a textura e adicionar fibras e proteínas à massa.
A lentilha é uma ótima opção para pessoas com restrição alimentar relacionadas ao consumo de proteína animal e da intolerância ao glúten. Os grãos de lentilha têm ganhado importância entre aqueles que valorizam uma alimentação saudável e em mercados gourmet. Existe uma demanda crescente de proteína vegetal por segmentos que buscam alimentos saudáveis bem como ampliar o leque de alternativas para dietas vegetarianas ou pessoas celíacas.
O Brasil tem importado a totalidade da lentilha destinada ao consumo. Em 2019, o país importou cerca de 13,5 mil toneladas no valor de US$ 7,2 milhões, 90% do Canadá. Esta importação ocorre pela pela inexistência de tradição de cultivo por parte de nossos agricultores.
A área cultivada no Brasil é muito pequena, apesar de ser uma boa opção para a agricultura irrigada de inverno, principalmente na região do Cerrado, onde essa cultura alcança produtividades de 1.200 a 1.500 kg/ha. Com estas produtividades e alta eficiência na utilização de insumos, espera-se ter em nosso país custos de produção competitivos com os daqueles países produtores que exportam para o Brasil.
Atualmente, graças aos trabalhos de pesquisa realizados pela Embrapa e instituições parceiras, essa tecnologia está disponível, assim como cultivares promissoras. Os poucos trabalhos de pesquisa realizados no país deixam claro que a produtividade potencial da lentilha no Brasil é elevada quando comparada com a produtividade média mundial.
O melhoramento genético tem sido fortemente dependente do setor público, no entanto estes esforços têm sido frequentemente descontínuos. A continuidade no desenvolvimento de cultivares com adaptabilidade às condições edafoclimáticas do país e com resistências múltiplas a doenças, bom rendimento, qualidades industriais e nutracêuticas, associado a uma melhor tecnologia de produção, podem garantir maiores margens de lucro para os produtores e a competitividade da produção empresarial em nível internacional.
Gerar cultivares de lentilha adaptadas ao centro-sul e ao Cerrado do Brasil, com alta produtividade, precocidade de maturação, baixa deiscência, porte da planta ereto e com alto valor nutricional são alguns dos objetivos de projetos de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa. Uma alternativa viável, neste caso, seria o plantio de lentilha durante a “safrinha”, não apenas como fonte de renda, mas também como adubo verde, uma vez que a leguminosa fixa nitrogênio através de simbiose com bactérias específicas.
A introdução da lentilha nos sistemas de produção contribuiria com o aumento da sustentabilidade dos mesmos, uma vez que é espécie de baixa demanda hídrica, além de ser menos susceptível ao ataque de pragas e patógenos. O fortalecimento de ações de pesquisa voltadas para o melhoramento genético pode ainda contribuir com a redução da importação, como também consolidar o mercado interno fornecendo alternativas aos agricultores brasileiros e ampliando o leque de potenciais ganhos econômicos e rentabilidade.
Com informações do portal da Embrapa e reprodução de matéria assinada pelo engenheiro agrônomo e pesquisador da entidade, Warley Marcos Nascimento.