Vereador invade Ala Covid, ambulatório e danifica porta de hospital em Castilho

 “entidade filantrópica registrou ocorrência contra o autor e outros 2 vereadores”

José Carlos Bossolan

Na noite de quarta-feira (14/04), três vereadores de Castilho foram ao Hospital “José Fortuna” para atender reclamação de suposta falta de médico e demora no atendimento na unidade de saúde do município. De acordo com informações obtidas por nossa reportagem, os vereadores adentraram no hospital sem autorização da diretoria da unidade.

Para piorar a situação, o vereador Adilson Santos invadiu a Ala Covid do hospital (restrita a funcionários e pacientes), fazendo o trajeto até o ambulatório da unidade para cobrar que o médico plantonista fosse atender a Ala Covid, pondo em risco a integridade de pacientes, profissionais  e do próprio vereador. Adilson Santos foi advertido por funcionários da unidade que não poderia transitar pelo local devido alto risco de infecção, mas em vão, pois o parlamentar continuou perambulando pelo hospital.

“com força utilizada pelo vereador, estrutura chega balançar”

O vereador  demonstrando “descontrole emocional”,  forçou uma das portas da unidade de saúde, vindo a danificá-la. A reportagem do O Foco requisitou as imagens do circuito interno do hospital, constando o exato momento do dano a portal, sendo o fato registrado pela câmera.

Adilson Santos esteve novamente nas dependências do hospital neste sábado. A Sociedade Beneficente de Castilho, mantenedora do Hospital José Fortuna registrou Boletim de Ocorrência pela invasão , que acabou causando transtornos aos pacientes internados, aos profissionais e pelo dano ao patrimônio da entidade.

O presidente da entidade filantrópica, Valdecir Soares Pereira, encaminhou termos de declaração de funcionários e às imagens do circuito interno do hospital para a Delegacia Seccional de Andradina, responsável pela investigação na tarde desta sábado (17). Essa não é a primeira vez que o vereador chamado por alguns populares de “descontrolado” é alvo de registro de ocorrência em seu desfavor, por falta de decoro e agressividade. Segundo relatos de profissionais do hospital, alguns médicos já estão cogitando a possibilidade em não mais prestar serviços ao “José Fortuna”, diante dessa pressão sofrida como no caso envolvendo parlamentares como da própria população, piorando ainda mais a situação caótica no local.

ESPERA

Desde 2000, as unidades hospitalares do país, adotaram o protocolo de Manchester, para classificar a urgência e tempo de espera pelo atendimento médico. O vermelho (emergência), defini que o paciente deve receber atendimento imediato. A cor laranja (muito urgente), defini o tempo de espera de até 10 minutos. A classificação amarela (urgente), define tempo de espera de até 50 minutos. Já a cor (pouco urgente), podem esperar pelo atendimento por até 2 horas e o azul (não urgente), pode levar até 4 horas para o atendimento. No entanto, diante da pandemia do coronavírus, o tempo de atendimento dos casos de menor urgência, pode levar tempo maior para a consulta médica.

VEREADORES

A reportagem do O Foco entrou em contato com os vereadores para obter a versão deles sobre os fatos que geraram o tumulto. Policiais militares foram acionados e estiveram nas dependências do hospital, sendo lavrado BO/PM.

Sam Borges disse que – “eu estava em minha casa, quando vi a postagem no Facebook e alguns vereadores dizendo que iriam até a unidade hospitalar. Falei com o dr Pedro, que estava atendendo e na sequência chamei os vereadores Albecyr e Adilson para falarem com o médico. Sei que os médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde estão sobrecarregados, cansados pelo aumento do número de internações, e não seria justo alguém falar que não está tendo médicos, quando na verdade estão, mas o que a população tem que entender é que a prioridade nos atendimentos é para os casos mais graves e a espera pelo atendimento nos dias atuais pela demanda da Covid tem sobrecarregado todos os hospitais do país. Sei que todos nós munícipes queremos ser atendidos, mas neste momento temos que ter a compreensão que a demanda é muito grande e está difícil para os hospitais contratarem mais médicos e equipe de enfermagem. Ontem mesmo, deram plantão no hospital três médicos, e eles tem se empenhado em salvar vidas. São vinte e dois munícipes que estão internados e eles têm que cuidar de todos e ainda do atendimento ambulatorial. Para colaborar com o hospital, pedi autorização para eu contratar uma enfermeira para cuidar de minha mãe no período noturno, e assim deixar um paciente a menos para ser medicado. Se a situação está ruim, pode ficar pior, pois as notícias correm e já imaginou o caos que vai virar se os médicos não quererem trabalhar no hospital de Castilho? Quando achei que tudo estava resolvido, sai do hospital, fui até Andradina para buscar a enfermeira que ficou a noite com minha mãe. Ao chegar na recepção do hospital fui indagado por um funcionário do hospital do motivo da minha permanência no local e acabamos discutindo, pois ele achou que eu estava lá para incitar o povo contra o hospital, quando minha intenção foi justamente o oposto, de explicar a situação para os populares que estava na frente do hospital para não acontecer algo de pior. Peço que todos nós tenhamos mais responsabilidade e cuidado para não inflamar o povo de forma injusta, impensada, pois ainda temos médicos para nos atender e se não tiver? Se ninguém quiser mais trabalhar em Castilho, como vai ficar a situação? Será que é só em Castilho que casos de menor urgência tem tempo de espera? Repito, estamos enfrentando uma das piores pandemia já vistas e graças a Deus que ainda temos profissionais para atender a população castilhense, e eles também são seres humanos que se emocionam, cansam, tem família e sou testemunha de como cada funcionário do José Fortuna está se dedicando” – desabafou Sam Borges.

Sam Borges disse que tem acompanhado a rotina do hospital pelo fato de sua mãe estar internada no Hospital José Fortuna a quase um mês e que alguns médicos chegaram a conversar com o mesmo da possibilidade de deixar a unidade de Castilho, juntamente por essa “pressão” popular contra os profissionais.

O vereador anunciou que pediu para o prefeito Paulo Boaventura marcar uma reunião com a Mesa Diretora da Câmara para enviar um projeto em regime de urgência para contratar mais médicos, fisioterapeuta e equipe de enfermagem, para diminuir a sobrecarga da demanda no atendimento dos munícipes.

Já o vereador Albecyr Pedro informou a nossa reportagem que foi acionado por populares que estavam reclamando da demora no atendimento e nega que tenha participado de tumulto – “eu cheguei no hospital de forma muito educada, conversei com o pessoal ali. Eu cheguei sozinho, e nem sabia que os outros vereadores estariam lá. Fiquei na recepção, conversei com o médico, de forma muito bem educada e em nenhum momento levantei o tom de voz. Fui questionado pelo fato de só ter um médico atendendo, mas sei que não é culpa dos profissionais, que estão trabalhando exaustivamente. Depois chegou o Sam e foi falar com o médico. O Roni chegou e aconselhou o Sam a não ficar por alí, pedindo para ele se retirar dali por ser uma área contaminada, aí os dois acabaram batendo boca, ficaram na recepção discutindo e eu sai e não vi mais. Da minha parte só fiquei na recepção e lá fora” – relatou o vereador, Albecyr Pedro. 

Adilson Santos ao ser indagado sobre o ocorrido, limitou-se apenas em questionar se somos jornalista e se possuímos faculdade da área. Uma mensagem enviada pelo parlamentar foi apagada pelo mesmo, não sendo possível verificar a argumentação. O parlamentar que recentemente teve 30% dos seus vencimentos bloqueados por ordem judicial para indenizar uma ex-esposa após a mesma ter acusado o hoje parlamentar de ter praticado contra ela agressões físicas e verbais, tem se posicionado de forma indecorosa e às vezes até leviana.

Tentando agir como uma espécie de “Gabriel Monteiro” castilhense, Adilson Santos poderá ter o mesmo destino que o vereador carioca. Monteiro teve que se afastar da Polícia Militar do Rio de Janeiro para não ser expulso da corporação. Agora o Conselho de Ética da Câmara irá analisar pedido de cassação do parlamentar diante de péssima postura na vereança e ainda a Justiça proibido o vereador de adentrar em órgão público durante a pandemia.

Desde que assumiu uma cadeira na Câmara de Castilho, Adilson Santos vem dando motivos de sobra para ingresso de pedido de abertura de CP (Comissão Processante) contra seu mandato. Por diversas vezes o vereador descumpre ordens do presidente da Câmara ao fazer uso da palavra sem estar inscrito, interrompe vereadores enquanto os mesmos fazem uso da tribuna e nos mais recentes episódios, foram registrados Boletins de Ocorrência contra seus atos.

Em fevereiro, Adilson Santos saiu “correndo pelo mato” após se envolver em uma briga com um policial militar aposentado, deixando para trás a arma que estava em sua posse. Após adentrar no Cemitério local, o vereador fez vídeo reclamando da falta de coveiros e ofendeu o prefeito Paulo Boaventura. O chefe do Executivo pediu abertura de processo administrativo contra Adilson Santos e a atitude do vereador, fez com que a administração municipal instaurasse sindicância contra os funcionários do Campo Santo São José, por falta de uso de EPI em sepultamento de óbito pela Covid-19 e declarações ao parlamentar.

No início de abril, Adilson Santos adentrou na sala da secretária municipal da Saúde, Márcia Zotelli e em tom de intimidação quis pressionar a servidora pública. A secretária também registro ocorrência contra o parlamentar. Por último, ao adentrar sem autorização no Hospital José Fortuna na noite de quarta-feira e forçar sua entrada no setor de atendimento de pacientes infectados pela Covid-19, Adilson Santos danificou uma porta de acesso ao local, sendo registrado novo Boletim de Ocorrência contra o vereador. Não satisfeito, segundo relatos de funcionários do hospital, o vereador teria retornado neste sábado (17/04), nas dependências do “José Fortuna” e importunado servidores da unidade de saúde.

Também pesa contra o vereador, Boletim de Ocorrência elaborado por um delegado de Polícia Civil de Andradina e uma promotora da Comarca de Andradina por suposta ofensa a honra dos servidores públicos estaduais proferida por Adilson Santos.

DESABAFO

Funcionárias do Hospital “José Fortuna” usaram as redes sociais para desabafar sobre o episódio da “invasão” do hospital.  Adilson Santos por suas atitudes pífias, tem conseguido desestabilizar emocionalmente os funcionários do hospital e profissionais da saúde do município, que além de trabalharem a exaustão para salvar vidas, especialmente frente a gravidade da Covid-19, tem que conviver com a pressão de um sujeito desequilibrado emocionalmente, ainda com uma arma na cintura.