Jamil Chade/UOL
O bilionário Elon Musk foi nomeado pelo presidente eleito Donald Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental. A decisão, anunciada na terça-feira, 12, coloca o dono da plataforma X no governo, num gesto que está causando polêmicas diante de seus contratos com o próprio estado americano e de um potencial conflito de interesse.
“Tenho o prazer de anunciar que o grande Elon Musk, trabalhando em conjunto com o patriota americano Vivek Ramaswamy, liderará o Departamento de Eficiência Governamental”, disse Trump. “Juntos, esses dois americanos maravilhosos abrirão o caminho para que minha administração desmantele a burocracia governamental, reduza o excesso de regulamentações, corte os gastos desnecessários e reestruture as agências federais”, afirmou o presidente eleito.
Trump destacou que ele será “essencial” para o movimento “Salvar a América”. “Isso provocará ondas de choque em todo o sistema e em qualquer pessoa envolvida no desperdício do governo, que é muita gente!”, afirmou Musk. Num comunicado, Trump indicou que a iniciativa se tornará, potencialmente, “O Projeto Manhattan de nosso tempo”.
O futuro departamento “fornecerá consultoria e orientação de fora do governo e fará parceria com a Casa Branca e o Escritório de Administração e Orçamento para promover uma reforma estrutural em larga escala e criar uma abordagem empreendedora para o governo nunca vista antes”. “Espero que Elon e Vivek façam mudanças na burocracia federal, visando à eficiência e, ao mesmo tempo, tornando a vida melhor para todos os americanos”, disse Trump.
Segundo ele, seu governo irá “eliminar os enormes desperdícios e fraudes que existem em nossos gastos anuais de US$ 6,5 trilhões com o governo”. “Eles trabalharão juntos para liberar nossa economia e tornar o governo dos EUA responsável perante “nós, o povo”. Seu trabalho será concluído no máximo em 4 de julho de 2026 – um governo menor, com mais eficiência e menos burocracia, será o presente perfeito para os Estados Unidos no 250º aniversário da Declaração de Independência”, explicou.
Musk participa de reuniões com líderes estrangeiros
Nos últimos dias, a presença de Musk no grupo mais íntimo de Trump tem causado surpresa entre políticos, inclusive republicanos. Na última sexta-feira, a conversa de 25 minutos entre o presidente eleito Donald Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky foi marcada pela presença de Elon Musk. Em determinado momento da reunião, Trump chegou a passar o telefone para o bilionário, que recebeu do ucraniano um agradecimento por fornecer seus satélites para o esforço militar de Kiev. Na conversa, Musk prometeu que vai continuar a fornecer serviços de internet ao país.
Em seu discurso de vitória, Trump escolheu citar especificamente Musk. “Ele é um gênio e precisamos proteger nossos gênios”, disse.
Conflito de interesse
Ao assumir um cargo no governo, porém, Musk abre o debate sobre um conflito de interesse. Mesmo sob o governo de Joe Biden, as empresas do bilionário vêm contando com amplos subsídios públicos. A SpaceX, por exemplo, vem trabalhando para criar uma rede de inteligência para o estado americano. A própria Tesla recebe isenções fiscais e apoio para garantir sua competitividade diante da concorrência chinesa.
Oficialmente, ele fez doações de US$ 132 milhões aos republicanos. Ele ainda prometeu US$ 1 milhão de forma aleatória a quem se registrasse para votar e que assinasse uma petição apoiando o direito a ter acesso às armas e, claro, à liberdade de expressão. Mas um trabalho “voluntário” não foi contabilizado: o uso da plataforma X como megafone das mentiras de Trump e de sua campanha, um cenário impossível de se imaginar em 2021.
Funcionários do Twitter se revoltaram contra Trump
Naquele momento, a cúpula da então Twitter atravessou dias intensos. Nos dias seguintes ao ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, 300 funcionários da empresa assinaram e enviaram uma carta à direção da empresa furiosos com o comportamento da plataforma, de permitir que fossem usados para a difusão de uma proposta de golpe de estado. Apesar de nosso esforços para servir ao debate público, como um megafone de Trump, nós ajudamos a alimentar os eventos mortais de 6 de janeiro”, apontaram os técnicos.
A carta foi entregue para os executivos no dia 8 de janeiro. “Precisamos aprender de nossos erros para evitar futuros danos”, insistiram. “Temos um papel sem precedentes na sociedade civil e o mundo nos observa”, alertaram. “Nossas decisões nesta semana vão cimentar nosso lugar na história, para o bem ou não”, completaram.
Os funcionários pediam a suspensão completa de Trump das redes. Alguns deles ainda organizaram uma iniciativa para entrar em greve caso a direção da plataforma se recusasse a banir o então presidente. Num primeiro momento, o republicano foi suspenso por 12 horas das redes. Mas, ao retornar, chamou os invasores de “grandes patriotas”.
Naquele momento, a empresa entendeu que a mensagem era um incentivo para novos atos de violência, potencialmente no dia da posse de Joe Biden, em 20 de janeiro. Naquela tarde, os executivos decidiram que Trump teria de ser expulso do Twitter. O que ninguém ali imaginaria é que, poucos meses depois, a empresa seria comprada por Musk por US$ 44 bilhões.
O bilionário vinha de um acúmulo de frustrações com os democratas. Ao mesmo tempo, o monitoramento das agências reguladoras aumentou em relação aos negócios de Musk, com pelo menos sete órgãos de controle abrindo processos, assim como a procuradoria de Nova York.
Investigações de agências oficiais contra Musk
Uma das investigações se refere aos acidentes gerados pelo sistema de piloto automático que a Tesla tenta desenvolver. Durante os testes, foram 467 acidentes, com 13 mortes e dezenas de feridos entre 2018 e 2023. Já a Securities and Exchange Commission (SEC) abriu processos contra a Tesla por postagens nas redes sociais e por denúncias sobre a falta de transparência em relação a acionistas.
A mesma SEC ainda investiga Musk por outras suspeitas no mercado financeiro, enquanto a Federal Trade Commission (FTC) examina propagandas enganosas por parte das empresas do bilionário. Já o Departamento de Justiça acusa a SpaceX de discriminar refugiados em suas contratações, enquanto a Federal Aviation Administration tem criado obstáculos para aprovar novos lançamentos diante do impacto ambiental.
A lista de frustrações de Musk ainda é completada com o veto de subsídios de US$ 900 milhões para a Starlink em um projeto de conexão para as zonas rurais dos EUA. Assim que Trump venceu, Musk se apressou para declarar em suas redes sociais: “o futuro será fantástico”.