José Roberto de Toledo/UOL
Não é só a maior parte da opinião pública que perdeu a paciência com o governo federal. Depois da pressão do Arenão de Arthur Lira, do agronegócio e dos evangélicos, a reclamação vem agora pela esquerda. Um recado foi dado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) a ministros de Lula: o mês de abril deverá ser mais vermelho do que foi no ano passado.
Estão prevendo mais ocupações de terra do que em 2024. Cúpula nacional do MST se reúne até sábado para definir ações da Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária. Lula pediu na reunião ministerial para ministérios avisarem com antecedência se há sinais de crise para governo tentar preveni-las.
A saber se recado do MST foi repassado ao Palácio do Planalto. Há uma disputa de versões entre o governo e seus aliados:
O governo diz que multiplicou o número de assentados em 2023 na comparação com o último ano do governo Bolsonaro. O MST diz que os processos de assentamento concluídos no ano passado (43) vinham se arrastando desde os governos Dilma e Temer e Lula só desengavetou o que Bolsonaro postergara.
Quando se vê o número de áreas obtidas pelo governo federal para fins de reforma agrária, a versão do MST faz sentido: foram apenas duas áreas adquiridas pelo governo federal para assentamento de famílias sem terra no ano passado – mesma média dos anos Bolsonaro. Em 2003, primeiro ano do governo Lula 1, foram 294 áreas obtidas para reforma agrária. Em 2007, primeiro ano do governo Lula 2 foram 183.
A explicação do governo Lula 3 para um número tão baixo de áreas adquiridas em 2023 é que havia verbas irrisórias no orçamento herdado de Bolsonaro para esse fim, o que é verdade. No orçamento deste ano as verbas previstas são ordens de grandeza maiores, mas ainda precisam ser executada.
A pressão prometida pelo MST durante o próximo abril vermelho é justamente para que esse dinheiro seja gasto logo, e que novas áreas sejam obtidas pelo governo Lula 3 para tentar retomar o ritmo perdido pela reforma agrária depois do impeachment de Dilma. O problema para o governo é que a toda ação de ocupação de terras pelo MST corresponde uma reação da direita bolsonarista.
No ano passado, o abril vermelho alimentou a CPI do MST no Congresso. À frente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, os bolsonaristas já começaram a se movimentar antes de as invasões ocorrerem, e prometem fazer um carnaval ainda maior este ano do que no ano passado.