PF investiga prestador de serviço que fraudou programa de desarmamento e desviou pelo menos R$ 11 milhões

“Técnico de informática forjava devoluções no sistema do “Desarma”, que paga indenização a quem entrega armas voluntariamente para serem destruídas”

Fantástico

A Polícia Federal investiga um prestador de serviço que fraudou o programa Desarma, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, e desviou cerca R$ 11 milhões dos cofres públicos. Tiago Mantognini está preso preventivamente desde dezembro de 2023, no Centro de Detenção Provisória de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.

“técnico de informática, Tiago Mantognini – foto: Reprodução/Fantástico”

O Desarma foi criado em 2011 e paga indenização a quem devolver armas de fogo voluntariamente para serem destruídas. A depender do modelo das armas, os valores variam de R$150 a R$450. Usando a senha de um policial federal, o técnico de informática, que entrou na PF em 2009, forjava devoluções e desviava o pagamento por elas.

Dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública apontam que, de janeiro de 2018 a dezembro de 2022, Tiago aplicou o golpe mais de 27 mil vezes — mais de 75% de todas as devoluções registradas no estado de São Paulo. Mas o levantamento vai apenas até 2018, e a PF suspeita que ele tenha começado a aplicar os golpes em 2013, ano em que deixou de trabalhar para a instituição. Ainda assim, continuou acessando o sistema.

O Ministério da Justiça reafirma a importância do programa para o desarmamento da população e que vai fazer correções para aumentar a segurança do sistema. Atualmente, o voluntário não precisa se identificar, nem é exigido o número de série da arma. Ao devolver, é gerado um voucher que dá direito a sacar o dinheiro da indenização no banco.

A participação de Tiago no esquema foi descoberta após o início das investigações, em janeiro de 2023, quando a senha usada pelo técnico foi bloqueada. Ele ligou para a instituição de um celular pessoal para pedir o desbloqueio, se passando pelo policial dono da senha, e foi descoberto.

O Fantástico teve acesso, com exclusividade, à transcrição de uma mensagem de voz obtida pelos investigadores em que o policial diz ao técnico: “a única pessoa que conhece minhas senhas e tem acesso ao meu celular é você”. Agora, a PF investiga como Tiago conseguiu o login e o valor total embolsado, assim como a possível participação do policial no esquema.

A defesa do técnico alega que ele reconhece parte dos crimes apontados e que se compromete a colaborar integralmente com as autoridades. Os advogados do servidor argumentaram ainda que a senha do policial pode ter sido usada também por outras pessoas além de Tiago. Em depoimento à polícia, ele assumiu a autoria dos crimes.

Em São José do Rio Preto, Tiago usava o dinheiro desviado para sustentar uma vida de extravagâncias, com uma mansão avaliada em R$ 2 milhões, carros de alto padrão, viagens de helicóptero em pontos turísticos, além de coleções de armas e vídeo games de última geração. Tiago também mantinha uma empresa de informática de fachada. Segundo odelegado Gustavo Gomes, tudo sem declaração à Receita.

“Junto à Receita Federal ele não fez nenhuma declaração desses valores que recebeu. A empresa dele, nos últimos cinco anos, não emitiu uma nota fiscal. Era uma empresa inativa”. Segundo as investigações, Tiago passou a viver mais recluso na cidade nos últimos anos. A polícia diz que ele só saía de casa para fazer saques nos bancos e que instalou 72 câmeras na rua onde morava, equipamento capaz de fazer reconhecimento facial e de placas de veículos.

Os investigadores acreditam que o técnico temia pela própria segurança depois de acumular tanto dinheiro. A Polícia Federal espera recuperar em torno de 40% do que foi desviado dos cofres públicos, já que Tiago começou a se desfazer do dinheiro e dos bens assim que o acesso ao sistema do Desarma foi bloqueado. A previsão da PF é encerrar o inquérito ainda em janeiro.