Pesquisa da Rede Penssan aponta que 33 milhões de brasileiros passam fome

“58% da população sobrevive com insegurança alimentar”

José Carlos Bossolan

A pesquisa divulgada nesta quarta-feira (08/06) revela que 33 milhões de pessoas estão passando fome no Brasil. Em pouco mais de um ano, foram 14 milhões de brasileiros que entraram para o mapa da fome. Embora a estimativa da produção de grãos do Brasil seja de 262 milhões de toneladas para 2022, e ocupando o ranking de um dos 5 maiores produtores de grãos do mundo e segundo maior exportador do produto, a distribuição de renda e acesso a alimentos ainda é um abismo social no âmbito nacional.

Os dados divulgados agora, equivale ao patamar do Brasil nos anos da década de 1990. O Brasil também é o maior exportador mundial de carne bovina e detentor do maior rebanho, mas fica evidente o aparecimento no comércio do país e comercialização até de osso em açougues e supermercados. O levantamento, realizado pelo instituto Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), mostra ainda que 58,7% da população vivem com insegurança alimentar (quando as pessoas tem acesso constante e permanente a alimentos seguros, nutricionais em condições suficientemente para alimentar o indivíduo).

Os dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, com entrevistas em 12.745 residências em áreas urbanas e rurais, em 577 municípios de todo o país. A pesquisa anterior, divulgada em 2020, revelava que a fome tinha voltado a um patamar equivalente ao de 2004. Segundo a Rede Penssan, o quadro atual é “ainda mais perverso” por conta da piora no cenário econômico, pelo acirramento das desigualdades sociais e pelo segundo ano de pandemia da Covid-19.

“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, diz Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede Penssan.

Atualmente, apenas 4 entre 10 lares estão em condição de segurança alimentar. Os 6 restantes variam em uma escala entre os que permanecem preocupados com a possibilidade de não conseguirem alimentos no futuro e os que já estão passando fome. No total, são 125,2 milhões de brasileiros com insegurança alimentar, aumento de 7,2% em relação a 2020 e de 60% em comparação com 2018.

“Já não fazem mais parte da realidade brasileira aquelas políticas públicas de combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013, reduziram a fome a apenas 4,2% dos lares brasileiros. As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”, avalia Renato Maluf, coordenador da Rede Penssan.

Com informações – Correio Braziliense.