“ministro dos Transportes, Tarcísio Freitas afirmou que áudio é do presidente”
José Carlos Bossolan
Um dia após concentrar mais de 500 mil pessoas na avenida Paulista em São Paulo (PM anunciou 125 mil), onde o presidente Jair Bolsonaro fez pronunciamento afirmando que não cumpriria ordem judicial do ministro do Supremo Tribunal Federal e começar a paralisação dos caminhoneiros, o chefe da nação recua.
Em áudio vazado e confirmado na noite desta quarta-feira (08/09) pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas como sendo de Jair Bolsonaro, o presidente pede o fim da paralisação das rodovias – “Fala para os caminhoneiros aí que são nossos aliados, mas esses bloqueios ai atrapalha nossa economia, isso vem, provoca desabastecimento, inflação, é prejudica todo mundo, em especial os mais pobres, então dá um toque nos caras aí se for possível, pra liberar tá oquei para a gente seguir a normalidade. Deixa, deixa, deixa com a gente aqui agora em Brasília. Não é fácil negociar, conversar por aqui com outras autoridades. Não é fácil, mas a gente vai fazer a nossa parte aqui. Vamos buscar uma solução para isso tá oquei? E aproveita aí em meu nome e dá um abraço nos caminhoneiros aí, valeu” – disse o presidente Jair Bolsonaro.
O ministro Tarcísio Freitas no final da noite confirmou o áudio como sendo do presidente e reiterou os argumentos de que a paralização dos caminhoneiros atrapalha o país e afirma “não dá para resolver um problema criando outro”. O áudio do presidente e o vídeo do ministro Tarcísio Freitas está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=9ZlDHDIN_34.
Na madrugada desta quinta-feira (09/09), mesmo com o vídeo gravado pelo ministro da Infraestrutura, o líder dos caminhoneiros e foragido da Justiça, Marco Antônio Pereira Gomes vulgo “Zé Trovão” pede para o presidente Jair Bolsonaro para gravar um vídeo falando a data e hora com o pedido de desmobilização dos caminhoneiros, que já paralisaram rodovias em 16 estados.
“Zé Trovão” também pede para o presidente fazer alguma coisa, pois após fazer ataques contra a democracia, teve prisão decretada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) – “presidente, o povo precisa do senhor. O senhor nos convocou desde o começo do ano. Nós estivemos na rua em maio, nós estivemos na rua em primeiro de maio, dia quinze de maio. Nós tivemos na rua primeiro de agosto. Presidente, pelo amor de Deus, estão atacando nosso povo aí em Brasília, a polícia está usando da força. O senhor é nossa última salvação presidente. Nós vamos trancar todo o Brasil por que nós estamos do lado do senhor presidente. Pelo amor de Deus presidente, não deixa seu povo ser oprimido. Faz o que tem que ser feito que o senhor tem o povo do seu lado. O senhor tem, eu tô do lado do senhor e o povo está do lado do senhor, pelo amor de Deus presidente” – implora o caminhoneiro no vídeo https://www.youtube.com/watch?v=GltUPbuCTGI.
“Zé Trovão” também relembra que Wellington Macedo, Osvaldo Eustáquio, Sara Wintter, Daniel da Silveira, também sofreram medidas do poder judiciário por embarcar nas “falácias” do presidente, e radicalizar o discurso de rompimento da democracia, “acabaram com suas vidas”, e o mesmo está acontecendo com ele, que é considerado foragido da justiça e em breve fará parte apenas dos anais como mais um que se “complicou” por embarcar no radicalismo e fora abandonado posteriormente.
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina, expediu determinação para que a Polícia Rodoviária desbloqueie as vias do estado e aplique multas nos caminhões que estiveram obstruindo o trânsito.
PERDAS
No dia seguinte ao presidente da República pregar que descumpriria ordem preferida pelo ministro Alexandre de Moraes ()7/09) e no dia em que os caminhoneiros deflagraram a paralisação das rodovias do país, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou o dia com queda de 3,78% e o dólar passou para R$ 5,32.
Já às empresas de capital aberto na Bovespa, perderam valor de mercado de R$ 195,3 bilhões após mais uma crise política instalada no país. A inflação brasileira está na casa do 9%, ou seja, bem acima do projetado pelo Governo Federal que era de 3,75%, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas.
ANÁLISE
Resta saber se nos próximos dias os caminhoneiros irão acatar o pedido do presidente Jair Bolsonaro e abandonar a pauta política que “eles compraram”, ou se vão romper às relações com o governo e passar a se manifestar por aqui que mais eles precisam para desempenhar suas profissões, que os preços elevados dos combustíveis e pedágios.
Por outro lado, o presidente Jair Bolsonaro que “inflou a cabeça” de seus apoiadores que os ministros do Supremo eram inimigos da pátria, poderá sofrer um revés com tantos condenados por abraçar seu discurso de ruptura, e no fim serem abandonados e percebendo o abismo entre o discurso e a prática. Depois de idas e voltas paira a dúvida se haverá mais alguém disposto a assumir o posto de “boi de piranha” e arcar com os rigores da lei, se tornarem mais um “mártir do esquecimento” e condenados da justiça.
Bolsonaro anunciou na capital paulista que iria convocar o Conselho da República para reunião. Não convocou o conselho, mas sim ministros para discutir a saída para o governo, sem que o conteúdo da reunião fosse divulgado.