“hospital providenciou o sepultamento sem consentimento de familiares”
Guilherme Renan/Folha da Região
Um episódio chocante e profundamente comovente veio à tona na manhã desta terça-feira (16), em Araçatuba. Uma família da cidade de Coroados foi até o Hospital Neurológico Ritinha Prates, com o objetivo de visitar uma parente que, segundo acreditavam, permanecia internada para tratamento. No local, porém, receberam uma notícia devastadora: a paciente havia falecido há cerca de dois meses — sem que nenhum familiar tivesse sido comunicado.
A irmã da paciente, Elisandra Rodrigues, de 45 anos, esteve na unidade acompanhada da mãe e de outra irmã para visitar Elizangela Rodrigues. Na segunda-feira (15), Elisandra entrou em contato com o hospital informando que realizaria a visita nesta terça-feira. Ao chegar à unidade, a família estranhou a demora incomum para liberação da entrada.
Em seguida, foram chamados pela recepção e encaminhados para uma sala onde estavam uma enfermeira, um médico e o administrador do hospital. No encontro, a família foi informada de que Elizangela havia falecido há exatamente dois meses. Segundo relato feito no local, a equipe teria se surpreendido com a presença dos familiares, alegando a necessidade de aguardar a chegada da assistente social, prevista para as 13h, para esclarecer o ocorrido e explicar por que a morte não havia sido comunicada.
Mais tarde, a assistente social entrou em contato telefônico com Elisandra, pediu desculpas pelo ocorrido e admitiu que houve falha. De acordo com a profissional, o prontuário da paciente não indicava a existência de familiares, o que teria levado a instituição a acreditar que Elizangela não possuía vínculos familiares.
A família, no entanto, contesta essa versão. Elisandra afirmou que, sempre que realizava visitas, precisava registrar a entrada em um livro de controle da unidade. A última visita ocorreu em julho de 2025. Segundo ela, a ausência mais frequente se deu em razão de problemas de saúde enfrentados pela mãe. Todo o processo de sepultamento da paciente foi realizado pelo próprio hospital, por meio da assistência social, sem qualquer aviso ou autorização da família.
Diante da gravidade da situação, os familiares procuraram a Delegacia de Polícia de Araçatuba, onde registraram um boletim de ocorrência. O caso agora será apurado pela Polícia Civil, que investigará as circunstâncias do óbito, a falha na comunicação e os procedimentos adotados pela instituição.
Outro lado
A Diretoria da Associação de Amparo ao Excepcional Ritinha Prates, de Araçatuba, emitiu a seguinte nota: “A Diretoria da Associação de Amparo ao Excepcional Ritinha Prates, de Araçatuba (SP), informa que hoje (16/12/2025) tomou conhecimento de uma falha no fluxo de comunicação com familiares de uma usuária da entidade que veio a óbito no dia 5 de outubro. De acordo com os protocolos internos da instituição, em caso de falecimento de algum dos internos, a orientação é que haja comunicação imediata aos familiares conhecidos, procedimento que, neste caso específico, não ocorreu conforme o estabelecido. Diante disto, o fato está sendo devidamente apurado para esclarecimento das circunstâncias e apuração de responsabilidades. A usuária estava internada no Hospital Neurológico Ritinha Prates desde 5 de fevereiro de 1987, sendo considerada usuária moradora da instituição. A Associação destaca ainda que, ao longo do período de internação, a família sempre manifestou reconhecimento e elogios aos cuidados e tratamentos dispensados à usuária, inclusive na data de hoje. A instituição manifesta solidariedade aos familiares e reafirma o seu compromisso com a transparência, a responsabilidade institucional e a melhoria contínua de seus protocolos de atendimento e comunicação”.
O caso segue sob investigação.

