Secom CONAFER
A lenda do Eldorado, uma cidade secreta envolta em ouro e esmeraldas, atraiu exploradores espanhóis para a América do Sul no século XVI. Os homens esperavam enriquecer fácil e rapidamente, mas, ao invés da realização do sonho, muitos encontraram a morte como destino. À medida que a história se transformou em fábula, as expedições em busca das riquezas perdidas enfraqueceu. Séculos depois, uma nova lenda surge: a cidade perdida da Amazônia.
A história de Ratanabá conta que há 450 milhões de anos, a civilização Muril floresceu no coração da maior floresta tropical do mundo. Alega-se que essa sociedade possuía uma organização sofisticada, sendo responsável pela construção de túneis que conectavam todo o supercontinente.
A narrativa veio à tona por meio de uma matéria do Instituto Ecossistema Dakila, publicada no dia 01 de julho de 2022 no próprio site da instituição, em que afirmam ter encontrado a cidade por meio de sobrevoos. Com duas aeronaves, uma equipada com câmeras e outra com o sistema Lidar, tecnologia de detecção e alcance de luz que consegue entrar na vegetação e fazer a leitura do terreno sem a necessidade de desmatar, mapearam a área. Nos levantamentos, os pesquisadores detectaram a existência de linhas retas muito bem desenhadas e, através da suposta evidência, atestaram ter descoberto o local de Ratanabá.
A reação dos arqueólogos e da comunidade científica no geral, não poderia ter sido pior. Afinal, acredita-se que os primeiros hominídeos (linhagem Homo) evoluíram de um ancestral comum entre os grandes primatas de hoje, que viveu entre 8 e 6 milhões de anos atrás. Isso faz com que a ideia de uma civilização humana evoluída existente há 450 milhões de anos seja amplamente desacreditada. Além da questão cronológica, a versão tradicional da história da humanidade, coloca o surgimento das primeiras civilizações entre cerca de 3.500 a 6 mil anos a.C.
Entretanto, ao deixarmos de lado as lendas e explorarmos pesquisas científicas atuais, somos confrontados com intrigantes revelações recentes, a primeira na Indonésia e a segunda na Amazônia Equatorial.
Na ilha de Java, no sítio arqueológico de Gunung Padang, foi encontrado o assentamento de três possíveis pirâmides subterrâneas, e o material orgânico de sua fundação foi datado como anterior a 20 mil anos a.C. Essa hipótese, lançou luz sobre a possibilidade de civilizações avançadas terem prosperado antes da última Era do Gelo. Contudo, a linha de pensamento também foi desacreditada pela comunidade científica, que julga a evidência como fraca para desvalidar a teoria da Mesopotâmia.
Já no Equador, no Vale do Upano, pesquisadores descobriram um complexo de antigas cidades na Amazônia, ocultas sob a floresta por 2.500 anos. Os assentamentos, datados entre 500 a.C e 600 d.C, compõem uma rede urbana complexa, interligada por estradas e canais, com estruturas residenciais e cerimoniais, além de extensos campos agrícolas. A descoberta, revelada por meio da tecnologia Lidar, destaca a diversidade das antigas culturas amazônicas e desmente a concepção anterior de que a região era habitada apenas por pequenos grupos antes da chegada dos europeus. Essa revelação, diferente das citadas anteriormente, foi muito bem aceita por arqueólogos ao redor de todo o mundo.
Entre lendas, fake news, novas teorias científicas e descobertas arqueológicas, as narrativas apresentadas têm algo em comum: a incômoda possibilidade de que nossa civilização atual não seja o pináculo da evolução social humana. A ideia de uma sociedade anterior bem sucedida, fundamentada em princípios e organização diferentes a do sistema comercial, desafia nossas crenças mais profundas. Questionar o status quo do capitalismo e da tecnologia, a imperatividade de participar da engrenagem do mercado e a constante necessidade de adquirir bens como forma de sobrevivência, leva a uma potencial crise nos paradigmas que sustentam nossa compreensão do mundo, da sociedade e de nós mesmos.
Talvez nunca saibamos com certeza o que ocorreu em eras tão remotas, mas o que importa realmente essas histórias é a chamada para avaliarmos o presente, para perdemos a rigidez do pensamento sobre a forma que devemos nos organizar e nos abrirmos a considerar possibilidades fora do convencional. Em meio às incertezas do passado, encontramos espaço para uma reflexão sobre o futuro e a busca por um caminho mais consciente e sustentável para nossa sociedade e nosso planeta.
Fontes: