Presidente da CONAFER diz que quem produz alimentos não desmata

“Carlos Lopes afirma que quem pratica desmatamento no país é especulador imobiliário e não produtor rural”

José Carlos Bossolan

O presidente da CONAFER (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil), Carlos Lopes falou semana passada (13/10) ao programa “CB.Agro” (parceria entre o jornal Correio Braziliense e TV Brasília), afirmou que produtor rural não faz desmatamentos, mas sim especuladores imobiliários.

“O produtor de alimentos do país, não pratica desmatamento, ou você acha que até meio dia ele vá produzir grãos e na parte da tarde pensa, olha vou ali desmatar um pouquinho. Quem realmente pratica o desmatamento no Brasil são os especuladores imobiliários, cabendo aos órgãos de segurança identificar esses autores. Nosso código florestal é uma maravilha, os produtores possuem o CAR, que cria o mecanismo de proteção, então quem produz alimentos neste país, não são os maiores desmatadores de nossas florestas e isso nós vamos ver em breve, com o crédito de carbono” – relatou o presidente, Carlos Lopes.

O presidente da CONAFER falou sobre os dados da agricultura familiar brasileira e sua importância na alimentação, geração de empregos e contribuição com o PIB (Produto Interno Bruto). Carlos Lopes disse acreditar que enquanto cada ator do setor produtivo não parar de rivalizar de quem é o mais importante para o país, muitas coisas deixam de avanças no Brasil no meio rural.

“Em 2019, a gente fez uma pesquisa de mercado para identificar nossos recortes e importâncias de setor, e começamos com a seguinte informação: 77% dos trabalhadores rurais, que prestam serviço a proprietários rurais, é a agricultura familiar que emprega. 10,1% do PIB somos nós [quem produzimos]. 85% das propriedades rurais no Brasil são nossas. A cada 10 casas, sete somos nós que alimentamos. (…) Eu acho que é um coletivo de pessoas muito importante que faz negócio, mas quando se trata de produzir alimento para consumo, o prato da mesa, foi por esse recorte que nós fizemos essa alta afirmação”.

Marco Temporal

Neto e filho de indígenas, o advogado também defende a autonomia dos povos originários, definindo a política estatal para o tratos dessas populações como um fracasso. Carlos Lopes ao ser questionado sobre seu posicionamento sobre o marco temporal, defendeu a demarcação de terras indígenas como setor produtivo e há terra suficiente para todos.

“Eu não posso falar com interesses de ser agradável. Até quando nós vamos ter lei para quebrar lei? Quais são as respostas para nós povos originários? Eu sou indígena. Minha mãe é indígena, minha vó é indígena, então espera aí. Por que? Por que de novo? O que nós estamos atrapalhando? O que estamos segregando ao país, mantendo o que era nosso antes de chegar a ‘maravilha do mundo’. A ‘maravilha do mundo’ que chegou aqui. Aí agora em 2023, volta a ‘maravilha do mundo’ de novo, quer dizer, a tutela do estado com nós é um fracasso. Não temos médicos, não temos jurídico, não temos aquele componente “para o debilóide”, me permite. Espera aí, vamos empreender, reconheça o que é do outro para você ter alguma coisa. Ficar criando viés para alienar segurança da existência de povos nos seus territórios, eu acho isso nesse momento agora, acho que nós deveríamos estar buscando o boi que produz três vezes mais que o boi atual. A soja que produz mais. Nós estamos sem mexer nisso, para voltar em providências colonialistas? Eu nunca achei, eu nunca acreditei que o nosso país tivesse problemas de terras” refletiu o presidente da CONAFER.

Carlos Lopes defendeu que os indígenas devam e possam explorar suas terras – “Eu acredito igual Darwin. Toda espécie que não evolui some, e por quê nós temos que deixar o parente em 1.500 se estamos em 2023? Você já parou para pensar no que esses indivíduos poderiam colaborar economicamente para nós, Brasil? O mundo não conhece nós de fato, porque somos uma cultura acoplada de Portugal e da Europa. O mundo não conhece a nossa cultura, as nossas cores, as nossas formas, os nossos alimentos, porque tudo está aqui. Será que nós não poderíamos ter isso dentro do nosso portfólio, Brasil? Agora essa hectaragem de terra, qual a importância para o Brasil? Quer dizer, se aprova o marco temporal, beleza, tira a terra de um e dá para outro. Vem cá, esse jogo mudou o que para nós cidadãos brasileiros de fato? Mostrar a pressão e opressão do Congresso? O indígena virou esquerda, vai sofrer uma agenda da direita? A agenda de terra da direita vai sofrer uma agenda da esquerda né? Eu acho que está fora disso, eu acho que nós deveríamos olhar o que isso nos traria. Vai trazer paz social? Vai trazer conflitos no campo? Cuidado, que é nós mesmos que estamos nos auto sabotando” – acrescentou.  

Carlos Lopes disse que seu posicionamento sobre o marco temporal é o que está descrito na Constituição Cidadã (CF/1988), que foi amplamente discutida por “pessoas mais nobres e bem intencionadas” – “Eu acredito hoje no casuísmo do interesse, apenas para ter apoiadores ou afins. Por que eu não ví ninguém justificar o marco temporal com inclusão de trabalho, com levantamento de economia, com melhoramento de estradas, com melhoramento de escolas, de médico, então espera aí. Ficou muito ambíguo. Nós deveríamos tomar umas decisões que mudam a realidade dos nossos países com uma responsabilidade mais inteligente. Viés assim eu acho muito pequeno para tomar uma decisão, então para mim, garante-se a Constituição, Fato” – fundamentou o presidente da CONAFER.

A entrevista sobre o tema está disponível logo abaixo e foi ao ar na sexta-feira (13/10).