Fase vermelha imposta em São Paulo é contraditória e “pune” pequenos comércios

“medidas mais rígidas entrarão em vigor no próximo sábado”

José Carlos Bossolan

O governador João Doria (PSDB) resolveu “arrochar” as medidas restritivas de circulação no estado mesmo em regiões que os indicadores apontados como prerrogativa para reclassificação de fase do Plano São Paulo, não seja a vermelha.

Ninguém poderá circular sem justificativa plausível entre às 20h e 5h do sábado (06) até 19 de março. A medida também impõe fechamento de comércios definidos como não essenciais, entretanto algumas contradições são apontadas no decorrer da pandemia.

Com 75% dos leitos de UTI Covid ocupados, segundo dados do próprio Governo do Estado, o Plano São Paulo previa que para chegar a fase vermelha no âmbito estadual, um dos critérios seria de ocupação dos leitos de UTI acima de 80%.

A região de Araçatuba pertencente à  DRS-2 (Departamento Regional da Saúde), nesta quinta-feira (04), está com ocupação dos leitos de UTI em 69,3%, ou seja, estaria se enquadrando na fase amarela, que estipula nesta fase de 60 a 70% de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva. A enfermaria na região também está com 47,2%, operando bem abaixo de sua capacidade total.  Já um arquivo em Excel dw dados abertos do Plano SP, a região de Araçatuba no índice de variação de novas internações apresenta queda de 31,25%, o que em tese injustificável a imposição na fase vermelha, segundo dados do próprio governo.

Nos indicadores do Plano São Paulo de 24 e 31/07 do ano passado, a região de Araçatuba, estava com ocupação de leitos em 67,3% e 65,1% respectivamente e figurava na fase laranja. Em 08 de janeiro, Araçatuba chegou à taxa de ocupação de leitos em 62,9% e permaneceu na fase amarela. A metodologia, do Plano São Paulo previa que para ingressar na fase vermelha, os leitos ocupados pela Covid deveriam ter indicador acima de 80%, mas pelo visto tal metodologia foi modificada.

Na coletiva desta quarta-feira (03), João Doria disse que não está preocupado com popularidade, em necessidades eleitorais e não pauta sua vida pela política, mas se importa com a credibilidade. O governador anunciou que sob orientação do Centro de Contingenciamento da Covid-19, tomou a decisão devido o aumento no número de casos, de internações e mortes por coronavírus em todo estado, lhe norteando para classificar todo estado na fase vermelha.

As medidas adotadas pelo governador afeta os pequenos comércios. Um estabelecimento comercial que adota às medidas de prevenção, com diminuição em 30% de sua capacidade de atendimento presencial, tratado pelo Governo como não essencial não se difere em nada dos transportes coletivos sem ventilação, sem uso de álcool gel, não auferindo temperatura dos usuários, ao contrário, contribui para proliferação do vírus em ambiente fechado. Às agências bancárias com suas enormes filas do lado de fora e sem distanciamento social não apresenta mais risco do que o salão de cabeleireiro que atende por hora marcada? é uma das perguntas difícil de responder.

Grande indústrias, obras da construção civil, templos religiosos, escolas (especialmente às públicas) não oferecem o mesmo potencial de disseminação da doença em se comparado com um cinema, shopping, academias, se adotados os protocolos de higienização, desinfecção e distanciamento? Outra pergunta sem resposta. Doria pede o fechamento de academias esportivas, mas não determinou a paralisação do recém-iniciado campeonato paulista o que é proibido pelo próprio Plano São Paulo em regiões na fase vermelha.

O coordenador do Centro de Contingenciamento da Covid, Paulo Menezes afirmou que o distanciamento social é a forma mais eficiente de impedir a transmissão do vírus, assim como o coordenador executivo do mesmo núcleo, João Gabbardo, disse que não existe outra medida que não seja o isolamento, a restrição de contato e evitar que as pessoas que estão contaminadas, venham contaminar outras pessoas.

Estranhamente, de novo o estado adota medidas que mais parece “contingency crazy” (tradução livre – contingência louca), que nem é medida para todos como o lockdown (confinamento) e tão pouco evita isolamento, cujo estado tem registrado nesse período de pandemia, os maiores índices de isolamento entre março e maio do ano passado, aos domingos (59% em 4 oportunidades). Gabbardo e Menezes indicam que a atitude mais plausível para o estado seria o lockdown completo, ao menos deixaram transparecer.

O governador também não havia determinado o cancelamento de visitas nas instituições prisionais do estado, como medida de conter a proliferação do vírus entre a população carcerária e seus familiares, onde segundo matéria do jornalista Luís Adorno do Uol, em janeiro deste ano, 11.469 detentos foram contaminados no estado, com 35 mortes. As visitas só não serão autorizadas em decorrência de determinação judicial, conforme publicação da própria SAP (Secretaria de Administração Penitenciária), na quarta-feira (03).

A situação atual do estado em número de óbitos é semelhante aos dados registrados em agosto de 2020, mais especificamente no dia 13, onde foram registrados 455 óbitos, contra 468 mortes computados nesta quinta-feira (04), às 16h57.

No dia 21 de agosto, conforme o mapa do Plano São Paulo, das 17 regionais da saúde no estado, apenas 6 estavam na fase laranja. Na 12ª atualização dos dados, apenas as regiões de Ribeirão Preto e Franca permaneceram na fase laranja e as outras 15 regionais da saúde, foram para a fase amarela, segundo dados de 04 de setembro de 2020.

Foi justamente entre agosto e setembro do ano passado, que o Governo do Estado de São Paulo, fechou os Hospitais de Campanha do Ibirapuera (atendeu 3.189 pacientes) ao custo R$ 12 milhões para funcionar, além de estimativa de R$ 10 milhões mensais, e o Hospital de Campanha de Heliópolis (989 atendimentos) ao custo de R$ 30 milhões à época e reativado no mês passado no AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Barradas.

Os novos casos registrados em agosto do ano passado, especialmente no dia 13, foram de 19.274, contra 12.236 registrados até às 17h26 desta quinta-feira. Alguns prefeitos da região estão propensos a manter a flexibilização das atividades não essenciais, mas temem represália do Ministério Público e do próprio governador. A intenção do prefeito de Andradina e empresário Mário Celso é um dos que pretende aumentar a fiscalização dos comércios e estabelecimentos de serviços, mas não decretar o fechamento do comércio.

Já o prefeito de Mirandópolis, Everton Sodário é um dos que não vem seguindo a determinações do governador João Doria. O “Bolsonaro caipira” é desafeto do governador e não dá sinais de fechamento do comércio local, sem que haja determinação judicial.

  • matéria atualizada às 7h52 desta sexta-feira, 05.