Com Yanomami sofrendo de subnutrição e falta de atendimento médico, governo adota medidas

“ações de emergência de saúde pública para enfrentar calamidade sanitária dos povos Yanomami”

José Carlos Bossolan

O Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública para enfrentar a calamidade sanitária dos povos Yanomami. Os indígenas que vivem na Floresta Amazônica, nos estados de Roraima e Amazonas, terão uma equipe da Força Nacional do Sistema Único de Saúde, que nesta segunda-feira (23), desembarca em Roraima, para ajudar os indígenas.

“crianças Yanomami com desnutrição severa são atendidos por equipes do Ministério da Saúde — Foto: Condisi-YY/Divulgação”

O Ministério da Saúde registrou a morte de mais de 500 crianças vítimas desnutrição, pneumonia, e outras doenças. “Tínhamos um edital só para brasileiros. Só em seguida que faríamos um edital para brasileiros formados no exterior e, depois, para estrangeiros. Frente à necessidade de levarmos assistência à população dos distritos indígenas, especialmente aos Yanomami, queremos fazer um edital em que todos se inscrevam de uma única vez”, explica o secretário de Atenção Primária à Saúde, Nésio Fernandes.

Segundo o secretário, com o edital único, quando esgotarem as vagas para brasileiros, aquelas remanescentes automaticamente irão para os brasileiros formados no exterior. Persistindo a vacância, as vagas irão para estrangeiros que queiram participar, de modo que haja um processo mais célere. A ideia é otimizar o trabalho e suprir o atendimento nos distritos indígenas. De acordo com a pasta, o governo federal vai garantir recursos para um edital em andamento, em que há 77 médicos alocados na região Yanomami.

O Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami é um dos que mais carece de profissionais entre os territórios, com apenas 5% das vagas ocupadas. Por isso, a necessidade de um novo edital formulado já a partir desta semana, contemplando a necessidade da saúde indígena. Em visita à região no sábado (21), o presidente Lula afirmou que a situação dos povos Yanomami, em Roraima, é desumana. Lula esteve em Boa Vista e viu de perto a crise sanitária que atinge os indígenas.

A situação já levou à morte 570 crianças nos últimos anos, sendo que 505 tinham menos de 1 ano. No ano de 2022, foram registrados 11.530 casos confirmados de malária na terra Yanomami. Atualmente, cerca de 700 indígenas estão sendo atendidos na casa de apoio, a maioria crianças com desnutrição grave.

Umas das ações prioritárias, para o presidente, é organizar a rede logística para o transporte de suprimentos e das pessoas entre as aldeias e a cidade, como a melhoria de pistas de pouso de aeronaves em regiões mais próximas às comunidades. No final do ano passado, a CONAFER (Confederação Nacional do Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais), fez a entrega de 1.000 cestas básicas em aldeias Yanomamis.

Foram 2 dias de barco para chegar em Barcelos, no interior do Amazonas, mais ao Norte do Estado, a 400 km em linha reta da capital Manaus, ou 1 mil km entre condução por terra e barco. Foi com esta logística e grande esforço que a confederação distribuiu mais de mil cestas básicas em aldeias yanomami pertencentes às comunidades ribeirinhas do médio Rio Negro: Ataiana, Manacauaca, Dom Pedro II, Cauburiz, São Roque. São Joaquim, Canafe, Floresta, Tapera, Acuacu e Nova Jerusalém.

A operação de entrega das cestas básicas, foi realizada em parceria com a Associação Indígena Xorómawë, comandada por Rui Macedo, o Leno, da etnia baré

Desde 2021, com o agravamento da Covid-19, a CONAFER tem feito ações para levar alimentos aos povos originários. Além das cestas-básicas, a confederação tem organizados outras ações de dignidade aos Yanomamis. O presidente da CONAFER, Carlos Lopes, disse em novembro de 2021, que a entidade vem monitorando a situação e continua lutando pelos povos indígenas.

“presidente da CONAFER, Carlos Lopes é solidário aos povos indígenas”

“Não podemos fechar os olhos para um problema existente que vem afetando o cotidiano dos povos indígenas. A ambição dos garimpeiros, das madeireiras tem levado a miséria, doenças, danos ambientais irreparáveis a esse povo que só quer ter o direito de viver a sua forma, na preservação ambiental, mantendo sua crença e cultura, sem a intromissão do homem branco. A CONAFER tem se reunido com lideranças indígenas para buscar uma solução urgente para esse problema que só vem aumentando, na mesma proporção que ceifa a vida desses brasileiros natos. Estamos juntos, apoiamos e defendemos os povos indígenas e nos aliamos como bravos guerreiros na defesa das suas causas, principalmente o direito à proteção dos seus territórios, à autodemarcação, à liberdade de expressão e preservação da sua rica cultura” – desabafou Carlos Lopes.

Com mais de 370 aldeias e quase 10 milhões de hectares que se estendem por Roraima, fronteira com a Venezuela, e o Amazonas, a reserva Yanomami, a maior do país, enfrenta problemas tão grandes quanto a sua extensão territorial. Ao todo, são 28 mil indígenas que vivem isolados geograficamente em comunidades de difícil acesso, mas que, em grande parte, já sofreram alguma intervenção de fora, com a ocupação de não indígenas, como é o caso dos garimpeiros, estimados em 20 mil.

Com Hora 1 e Agência Brasil e CONAFER.