BATATA CURADA: Embrapa-DF faz pesquisa inédita para cura do tubérculo em condições tropicais

Secom CONAFER

Sempre no processo pós-colheita há necessidade da cicatrização das lesões das raízes dos tubérculos. No caso da batata-doce, a Embrapa Hortaliças (Brasília – DF) iniciou no último mês de outubro as pesquisas para adequar os processos de cura da batata-doce em condições tropicais, para sistemas de cultivo convencional e orgânico. A cura contribui no aumento da vida útil e manutenção do aroma, do sabor e da qualidade nutricional da hortaliça.As principais regiões produtoras de batata-doce no Brasil são Nordeste (317,3 mil toneladas), Sul (252,9 mil toneladas) e Sudeste (214,0 mil toneladas). O estado que apresenta a maior produção nacional é o Rio Grande do Sul, com 175,0 mil toneladas, seguido pelo estado de São Paulo, com 140,7 mil toneladas

Processo comum em países do Hemisfério Norte, a cura pode ser adotada pelos produtores brasileiros que estão de olho no mercado externo e também por aqueles que desejam oferecer um produto diferenciado ao consumidor nacional.

A pesquisadora Lucimeire Pilon, da área de pós-colheita da Embrapa, afirmou que “o objetivo é definir os parâmetros necessários para a realização desta técnica, considerando as condições de clima, as cultivares disponíveis em nosso país e de acordo com a realidade social e econômica do produtor brasileiro”. A pesquisadora explica que existem orientações gerais sobre o processo de cura da batata-doce embasado no que é realizado nos países do Hemisfério Norte, onde é necessário o armazenamento da hortaliça para o consumo na entressafra.

A importância de curar a batata-doce

A pele fina torna a batata-doce suscetível a danos mecânicos durante a colheita e transporte. E esses ferimentos deixam a raiz vulnerável a contaminações e crescimento de fungos e bactérias. No processo de cura, explica a pesquisadora, ocorre a cicatrização dessas lesões pela suberização, que é a deposição de suberina, um polímero lipídico-fenólico, em camadas celulares abaixo da superfície da lesão. 

Pilon acrescenta que esse processo, iniciado logo após a colheita, permite ainda reduzir a perda de umidade das raízes e aumentar a proteção contra doenças. No entanto, ressalta que a eficiência do processo de cura também é dependente da qualidade das raízes, resultante do manejo adequado no campo.

Para a realização do processo de cura é necessário o armazenamento da batata-doce em um espaço adequado para controle da temperatura, da umidade e da ventilação, além da concentração de gás carbônico. “Para garantir todos os benefícios que o processo de cura agrega, nós temos que definir os parâmetros para as nossas condições climáticas e cultivares disponíveis”, reforça a pesquisadora Lucimeire Pilon.

Unidade de Cura de Batata-doce

A Embrapa Hortaliças construiu a Unidade de Cura de Batata-doce. As cultivares que serão utilizadas na pesquisa são BRS Anembé e CIP BRS Nuti, lançadas recentemente pela Embrapa; Beauregard, desenvolvida nos Estados Unidos e recomendada pela Embrapa; e Canadense, que é a mais plantada comercialmente no Brasil. A pesquisa já está em andamento e a expectativa é que no primeiro trimestre do próximo ano os parâmetros para a adequação do processo de cura já estejam definidos.

Lucimeire Pilon -

Comercialização

No Brasil, a batata-doce vem ganhando notoriedade. A partir de 2012, a produção e o consumo aumentaram. No artigo “Mudanças recentes no padrão de consumo da batata-doce no Brasil: perspectivas para o mercado nacional” foi apontado que o consumo per capita apresentou queda nas classes de renda mais baixas, tendo crescido entre aquelas de renda mais alta. 

Em menos de dez anos, a produção nacional passou de 500 mil toneladas para quase 850 mil toneladas em 2020. Dados da FAOSTAT mostram que o Brasil exportou 11,9 mil toneladas, em 2020, e os Estados Unidos comercializaram 263 mil toneladas da hortaliça, ocupando o primeiro lugar nas exportações.

Para a pesquisadora Lucimeire Pilon, essa perspectiva de aumento de consumo e de produção de batata-doce demanda a introdução desse processo de cura como um adicional para a conservação pós-colheita da raiz. “Estamos certos de que vai impactar positivamente em toda a cadeia econômica da batata-doce no Brasil”, conclui. 

A importância socioeconômica da batata-doce para a agricultura brasileira

A batata-doce é um dos cultivos mais democráticos do Brasil, pois cerca de 24% dos municípios brasileiros produzem a cultura para sua subsistência e também para comercialização. Essa cultura é produzida em pequena e larga escala nas mais diferentes regiões edafoclimáticas do país e com graus de tecnologia também bastante diversificados. A produtividade média da cultura no país é de cerca de 15 toneladas por hectare, mas varia de 0,3 a mais de 48 t/ha dependendo do nível tecnológico utilizado. Grande parte da popularidade da cultura advém de suas boas características agronômicas, além da grande versatilidade nos usos culinários.

Carboidratos são os nutrientes disponíveis em maior quantidade em batata-doce, variando de 80 a 90% do total de matéria seca que pode variar de 13 a 48%. Recentemente, a cultura atingiu grande popularidade na mídia em função de ser considerada um alimento saudável. Esse fato ocorre principalmente pela presença de vários componentes nutracêuticos, tais como: fibras, vitamina A, vitamina C e antocianinas. Além disso, a batata-doce apresenta um baixo índice glicêmico.

A batata-doce é capaz de produzir sementes botânicas, porém estas raramente são observadas no campo, uma vez que as raízes geralmente são colhidas antes do florescimento da planta. Dessa forma, a propagação da cultura é realizada comercialmente de maneira vegetativa via corte e transplantio de ramas de 30 a 50 cm. Esse aspecto facilita muito o plantio da cultura, mas ao mesmo tempo incrementa a quantidade de pragas e doenças transmitidas de uma lavoura antiga para uma lavoura nova. Outro impacto negativo do transplantio constante de ramas ao invés de sementes botânicas é a diminuição da variabilidade genética, o que em médio e longo prazo pode comprometer a diversidade da cultura aumentando, assim, riscos de epidemias de pragas e doenças.

A falta de conhecimento dos principais aspectos de manejo faz com que recursos caros como adubos e defensivos sejam sub ou superutilizados, causando grande impacto ambiental além de potenciais danos à saúde humana. Dessa forma, é fundamental a realização de parcerias e projetos entre as poucas instituições que lidam diretamente com a cultura no país para a melhoria de todos os aspectos da cadeia produtiva, assegurando a sustentabilidade da cultura, que socialmente é uma das mais importantes da agricultura brasileira.

Com informações da Embrapa Hortaliças – DF.